Quem sou eu

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Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

HADES


Gira mundo, sopra o vento na copa das árvores
Rosas florescem e orquídeas fenecem
Ruídos de sorrisos inundam as manhãs
Soluços de choros assombram as madrugadas

Chegamos chorando num túnel negro de lodo e sangue
Partimos perplexos apavorados com o dom de voar
Em direção ao túnel branco e ofuscante
Da incerta possibilidade da sobrevivência da consciência

A extinção da vida é muito mais simples do que se imagina...
Não importa a causa...
Não importa quem causa...
O efeito é inadiável, como no “conto de Samara”...

O que verdadeiramente importa
É o caminho percorrido até o mergulho
E novamente estamos aqui, juntos ou não!
No templo do dia ou na mansão das sombras...

Eis a questão...
A nobreza do espírito não está no sofrimento,
Nos belos atos ou no crescente egoísmo cotidiano
Está na maiêutica que seu personagem de carne
Faz ao coadjuvante univitelino e sílfide envolto em brumas

E a cadaverina que emana do ente pútrido
Desvencilha alma alada da lagarta em casulo
E sorri da ignorância dos que choram por saudade
Brindando as almas ao reencontro em revoares

O tempo passa, o choro seca e amnésia se esquece
E hoje, quem chorou é chorado quando entra no casulo
E o ciclo se repete infinitamente enquanto ignorantes choramos
Gira mundo e sopra o vento na copa das árvores...

Edson Pereira
Reserva Roosevelt-RO, 25.08.2010

sábado, 21 de agosto de 2010

Espelhos


Espelhos
O Sentimento é o tilintar das espadas celestes
O fulgor e o dégradé das emoções
O bailar do combate harmônico dos astros
No sublimar dos sentidos ornado de brumas
E exequível no planar das melodias sublimes

Um vulcão rodeado de cidades
De um lado a impetuosidade e do outro a servidão
Em uma mão, a manutenção cotidiana da vida
Na outra, a evolução mutante e indeterminada da morte
Uma dicotomia simbolicamente antagônica

Mas isso, nos permite erigir revoares impetuosos
Gritos tonitruantes que se reverberam em mundos inimagináveis
Mergulhos indecifráveis em almas no mirar de retinas reticentes
Que anseiam pelo néctar da inquietação que ressuscitam almas
Do lodo imergido no ostracismo construído nas osmoses

Quem somos nós?
Marionetes digladiando com fantoches?!
Descobrimos o obvio, mas se nos gritam que o melhor vôo
Reside no túnel das minhocas, titubeamos em acreditar
E ao lodo nos impregnamos de fétidas almas vãs

Afogados e misturados estamos à unidade
Marchamos na cadência das tropas de autômatos
Camicases desprovidos de coragem e razão
Sonhando um dia no fragmentar do próprio cérebro-casulo
No revoar das asas do amplo discernimento

E quem sabe o inseto símbolo da metamorfose
Pousar não possa nos ombros das cegas minhocas felizes
E balbuciando sua enigmática linguagem abstrata
Olhos abrir possam, num mágico desipinotizar de mentes
Despertando de recônditos profundos os até então perdidos

A reciprocidade é a dualidade mimetizada de unidade suprema
Diletante é para a alma, sentir a simbiose sem perder-se no vácuo da alienação...
Por isso os sentimentos não podem ser mensurados,
Nem expressados na dialética das palavras ou de rebuscados sofismas...
A nós, meros mortais, melhor apenas sentir e reservar-se à sapiência do estado silente!"

Edson Pereira
Reserva Roosevelt-RO, 21.08.2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Canção do Amor


Não acabará jamais o amor,
Nem as feridas rasgadas nas entranhas,
Nem o tempo que esvai as belezas,
Nem o azimute das rosas dos ventos,
Tampouco a foice do temido Hades...

E a prova pensada no manto do tempo
Dispensa a pena do sagrado Ícaro
Bailando nas nuvens das sombras de Creta
Solene levanta seu canto estridente
E a estrofe minha que emprega mil dedos

Audaz violenta os choros da noite
Despertam em auroras sorrisos celestes
Tal qual querubins em harpas sublimes
E tonitruante grito aos céus se resvala
Ao raio inciso no arco do tempo
E ao músculo pulsante indômito instaura

E os átrios compassos em ritmos fortes
Comprimem semblantes em plácidas faces
Que disfarçam firme a dura saudade,
Do tempo que esmaga
E a distância que espreme

Verdades caminham de mãos com o tempo
Te adorando muito além deste século
E o presente insano alheio a distâncias
Agita bandeiras de sorrisos plenos
Morrendo em ausências nas lânguidas faces

E os corpos que anseiam volúpias de toques
Serrilham seus dentes travando vontades
Num canto em gemido uivando pra lua
Lobos acorrentam seu siso do instinto
Parados no oceano em berg’s de gelo

E orvalho de orgasmos aguardam sublimes
A canção das flores que a vera fecunda
Qual suculenta pêra areada e doce
Olfatos de rosas flutuam no ambiente
E o vulcão extinto na espera da chama

Erige voraz o arcabouço do espaço
E fogo brilhante lançado à distância
Demarca o terreno dos pegos distantes
E ampulheta rígida parada no tempo
Quebrada espalha a poeira brilhante

E o brilho distante formado de brumas
Ao chão se contorna em corpos e suores
Em toques e lábios, em cheiros e gostos,
Em gritos tão loucos sem Freud nem Jung
Sufocam superegos e motivam Id’s

Que pairam insanos acima dos sonhos
Tangível no corpo mas por ele negado
Amar não permitem diletante estarem
Pois sofrível é a vida pra o mundo dos sanos
Que não se permite desejos viver

Nem corpos tocar, nem beijos sorver,
Nem olhos mirar, nem cheiros sentir...
Por isso sou louco, insano poeta
Que deseja fadas além das mulheres
Flutuam no espaço e tomam seu sexo

Não temem desejos nem frustram distâncias
Bailando em estrelas que o céu não comporta
Mergulham em querências como elas não o fazem
Flutuam nas matas, deslizam no’espaço
E lá se deleitam com as flautas dos faunos.

Edson Pereira
Santarém – PA, 22/11/2009

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dialética das Rochas


Olho de baixo, a imensa escadaria
A grossa corrente quase tocando o céu
O gélido vento que dança entre as brumas
Nuvens espessas tocando nosso hálito

Nada mais será como foi...
Homens urbanos num ambiente inóspito
Sobreviver acima do dever num rumo incerto
A linguagem perdida de um novo mundo

E corpos se abrem ao desconhecido
O suor quase congelando os semblantes
Os pensamentos dissipados nas gotículas
A imensidão em retrato celeste

Os músculos láticos tremulando verbalizam
Na dialética lasciva, rocha torna-se amante
Céu e montanha em dicotomia perfeita
Gritando atemporal em tonitruante silêncio

E o vento que aos ouvidos balbucia
Traça as trilhas dos ousados altiplanos
Reescreve pergaminhos invisíveis
E decifram os que vencem sobre as pedras

E aqueles que degustam todo o vento
Afagam a face doce da montanha
Que na dualidade suprema transitam
De bondosa Gaia à Hécate cruel

Se eu recitasse tal poema, poucos entenderiam
Apenas aqueles que grudados ao paredão
Encontram acalento nos pegos vertiginosos
E pavor sentem do leito e da prostração

Agora descanso, mas o sonho não me abandona
Nem as pedras incrustadas sobre a mente
Os meus dedos tateiam frestas de lembranças
Das futuras rochas que ansiosas me aguardam

Não escondo do mundo a minha paixão
Para os loucos, rótulos são comuns
Mas cercado estou de uma celeste tribo
Que levitam muito além do mero chão!

Edson Pereira
Rio de Janeiro – RJ, 27/07/2010