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Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Lançadores de Estrelas


Lançadores de Estrelas (Autor: Edson Pereira - 1990 )

Esta história poderia ser contada de muitas formas: um beija-flor que tenta apagar um incêndio numa floresta, um velho fazendeiro que as desgraças da vida não conseguem abater... enfim, retrata a necessidade de fazermos nossa parte neste mundo, pois o que fazemos no presente, repercute no infinito, como uma pedra que jogamos num plácido rio reverbera suas ondas no universo, mesmo que não possamos ver.

Um menino chamado Jonathan sonhava em ser um grande escritor. Estudou muito e cresceu imaginando em ajudar muitas pessoas com seus livros.
Ele se tornou psicólogo, e começou a ajudar as pessoas, primeiramente no seu consultório. Foi construindo o seu sucesso, à medida que se aprofundava mais e mais nos seus estudos da mente humana. Casou-se, teve filhos e escreveu livros, como sempre planejara fazer. Seus livros correram o mundo e se tornaram verdadeiros “Best-seller’s” trazendo fama e riquezas.
Dr. Jonathan, como agora era chamado, viajava pelo mundo fazendo conferências, palestras e seminários, não lhe sobrando muito tempo para viver, propriamente sua vida. Seus filhos cresceram, casaram-se, seus cabelos ficaram grisalhos, depois brancos e um dos poucos dias em que ficou em casa, sua mulher o interrompeu no sagrado ofício do estudar e começou um diálogo talvez essencialmente e interiormente instrutivo.
- Jonathan, eu sei que o que está fazendo é muito importante, mas precisamos conversar...
- Querida, será que podemos deixar esta conversa para depois? Preciso terminar esta resenha.
- Há trinta e dois anos deixamos esta conversa para depois. Você sempre enfurnado neste escritório, deixando as férias das crianças sempre para o ano seguinte.
- Mas você sempre os levou para viagens, passeios, férias em muitos lugares. Eles sempre viveram muitas...
- Estou falando de você Jonathan! Sua velhice chegou e você não viu. Não viu seus filhos crescerem, não aproveitou a vida como deveria, nem sequer conheceu sua maravilhosa casa de praia que compramos há cinco anos. E que neste final de ano, como Priscila está casada e Rowan estudando no exterior, terei que aproveitar sozinha pelo que vejo.
- Nossa casa de praia... – Jonathan levantou-se do escritório, e sem dizer mais nenhuma palavra se dirigiu para o banheiro.

A mulher, arrasada achando que seu marido jamais acordaria do seu quase eterno casulo, se dirigiu ao quarto e começou a arrumar as malas para suas férias solitárias.
De frente para o espelho, Jonathan ficou assustado com a quantidade de cabelos brancos, nunca havia percebido quantas rugas havia adquirido ao longo daqueles anos que pareciam dias. Quantas férias havia deixado de aproveitar com seus filhos, que de crianças se tornaram adultos. Passaram em minutos da infância à adolescência, e da adolescência à vida adulta e ele não havia percebido. Imergido na sua fixação de sucesso, se tornara um velho, com o humor de velho que sempre tivera desde jovem. Mas será que ainda havia tempo para remediar seus erros?
Dirigiu-se ao quarto, abraçou sua mulher beijando-a apaixonadamente, que de olhos arregalados não conseguia piscar:
- O que houve Jonathan?
- Eu acordei querida. Eu acordei!
- O Quê?
- Vamos tirar férias. Férias como nunca tiramos antes. E aproveitarei cada minuto!
Na estrada, a esposa não parava de olhar assustada para Jotathan, parecia que alguma magia estava acontecendo. Chegaram à casa de praia antes do pôr do sol, e o caseiro se espantou ao conhecer o patrão, que há anos só conhecia de nome. Jonathan cumprimentou-o amistosamente e correu para o terraço para aproveitar o que restava do crepúsculo. Em seguida desceu e perguntou ao caseiro:
- Ravier, de que lado da casa nasce o sol?
- O senhor poderá admirar o despertar do rei dos astros da janela do seu quarto, basta acordar antes dele, e vê-lo se erguer da sacada. É um espetáculo maravilhoso, senhor.
- Magnífico, Ravier, muito obrigado!
A mulher de Jonathan, sorria satisfeita, pela primeira vez, seu marido se interessava pelas coisas simples da natureza e da vida.
Se recolheram cedo, e antes que o sol despontasse, Jonathan estava de pé, em frente à enorme janela de vidro, sorvendo com a alma o perfume das marés, e recebendo a carícia gélida da brisa da manhã, jamais sentira aquela sensação. Quando o sol despontou além das margens do horizonte, a beleza indescritível o deixou trêmulo de prazer embora pensasse se tratar do frio. Mas quando os primeiros raios iluminaram a praia, avistou a silhueta de alguém que parecia dançar na areia. Aguçando sua curiosidade.
- Quem será que tão cedo se expõe ao sereno da madrugada, simplesmente para dançar na areia? Ah... isso deve ser coisa de quem não tem o que fazer. Se dirigiu ao computador e passou a corrigir alguns textos. Quando deu por si, o dia tinha passado e o sol já estava se pondo. Correu para o terraço e procurou não perder a visão daquela obra de arte da Criação, embora o sol já estivesse quase que totalmente escondido.
- Quase perdi este espetáculo. Amanhã ficarei mais atento.
Novamente se recolheram cedo, e pela manhã como de costume, abriu a enorme janela e deixou que o vento penetrasse no seu quarto. Novamente avistou a figura do dançarino na praia. A figura daquela pessoa dançando na areia o incomodava deveras. Não sabia o que pensar: seria um louco? Uma espécie de terapia? Um estudante de Taichichuan? Seria muita ousadia de sua parte se intrometer na vida alheia, mas sua curiosidade...
Quando a mulher acordou, comentou com a mulher sobre o dançarino:
- Diana, estou intrigado com a figura de uma pessoa que todas as madrugadas dança na areia da praia, parece loucura.
- O que há de tão estranho uma pessoa dançar na areia da praia? Nem todas as pessoas têm desvio de personalidade ou conduta meu preocupado psicólogo... – Brincou a esposa.
- Estou falando sério! A pessoa acorda de madrugada, debaixo do sereno, molha os pés na água gelada do mar, com que objetivo? Só pode ser, ou estar ficando louco!
- Quem sabe pra ele, isso seja viver!... Ter um modo diferente de vida, Jonathan, não significa necessariamente que uma pessoa seja, ou esteja ficando louca.
- Mas...
- Se realmente está tão intrigado, por que não o procura e conversa com ele, quem sabe, não obtêm as respostas e sai desta eterna interrogação.
- Você acha que devo?
- Claro! Se não o fizer, sei que esta interrogação pode acabar com suas férias, ou então, até deixa-lo louco. – Ambos riram muito da sábia piada séria da esposa.

No outro dia de manhã, abriu a janela torcendo para que o dançarino não estivesse lá. Não queria se meter num mundo alheio, parecer invasivo e inoportuno. Mas aquilo parecia corroer suas entranhas. Precisava descobrir do que se tratava. Se poderia ajudar de alguma forma aquela pessoa, que certamente, deveria ter alguma espécie de neurose. Por um instante respirou aliviado, não vira nenhum movimento na areia, parecia que na penumbra da manhã, a praia estava deserta. Mas seu coração disparou aos pulos, ao perceber uma figura erigir do solo como Adão, nascendo do pó da terra, em movimentos majestosos.
- Meu Deus quem é esta pessoa? – Desceu as escada que dava na ante-sala, abriu a porta da varanda deixando escancarada e correu até a praia.
Disfarçou sua excitação reduzindo o passo e andando lentamente em direção ao dançarino, quanto mais perto chegava, mais seu coração acelerava. Foi chegando mais perto, e mais perto ainda. E quando quase conseguia ver o semblante do jovem à sua frente, percebeu que este não estava a dançar, mas simplesmente pegava algo na areia e lançava ao mar. Seus gestos eram marcados, e seus movimentos denotavam uma enorme paixão aos seus atos que vistos ao longe, pareciam movimentos de uma dança. Quando se aproximou mais ainda, percebeu que o jovem se abaixava, pegava estrelas-do-mar e as lançava ao oceano. O jovem sorriu amistoso para o psicólogo à sua frente, parado com as mãos na cintura, e continuou lançando suas estrelas-do-mar.
- Com licença jovem, posso lhe fazer uma pergunta? Sei que posso parecer inoportuno...
- Se estiver ao alcance da minha humilde ignorância responder.
-Claro que pode responder! O que faz tão cedo nesta praia? – perguntou sem rodeios.
- Não está vendo? Estou lançando as estrelas-do-mar de volta à sua casa!
- Sim, estou vendo! Mas por que está fazendo isso?
- Ora! A maré está vazando, o sol daqui a pouco vai deixar esta areia escaldante, todas estas estrelas que estão nesta praia irão morrer ressecadas. Eu estou tentando salvá-las.

O psicólogo riu discretamente, tendo quase certeza do que desconfiava, aquele jovem tinha algum distúrbio. Talvez fosse um louco desvairado e sonhador. E tentando segurar o riso argumentou:
- Meu jovem, você já viu a extensão desta praia, já percebeu a quantidade de estrelas-do-mar que estão espalhadas nesta areia que vai daqui até perder de vista. Não interessa quão rápido você seja na sua tarefa, por mais ágil que seja, não conseguirá nunca salvar todas estas estrelas do mar. Você não percebe que esta sua tarefa é inútil, e não fará diferença, em breve muitas estrelas-do-mar estarão mortas nesta ou em outras praias.

O jovem com um sorriso amistoso nos lábios, abaixou, pegou outra estrela-do-mar e magicamente lançou-a de volta ao seu lar. Se dirigiu ao psicólogo e disse:
- Fez toda diferença do mundo para esta estrela!
No outro dia, bem cedo, Diana passou a mão na cama e seu marido já tinha levantado. Ela se dirigiu até a grande janela e pouco depois de se maravilhar com a magnífica presença do nascer do sol, ficou intrigada ao ver a figura de duas pessoas dançando na areia.
O fato, é que Jonathan depois deste dia, resolveu se aposentar e nunca mais voltou para morar na casa da cidade.
No ano seguinte, sua filha Priscila que veio passava as férias com o marido, desceu mais cedo do que de costume para o café da manhã.
- Acordou cedo filha?
- Na verdade, pai, acordei antes do crepúsculo, e intrigada, não consegui mais dormir...
- Intrigada? – Perguntou o pai.
- É pai, quando olhei o nascer do sol pela janela do quarto, avistei na praia dezenas de pessoas dançando na areia. Quando o sol se ergueu, seguiram cada em sentidos opostos umas das outras. Com a claridade da manhã, percebi que você e mamãe estavam entre eles. Quem são estas pessoas?
- Não se preocupe, filha. São apenas lançadores de estrelas.

Autor: Edson Pereira – Inspirado no texto ”Estrelas do Mar”
Autores do texto original: Jack Canfield e Mark Hansen
Do livro:”Canja de galinha para a alma”

Um comentário:

  1. E então a psicanalista aqui diz: Pereira Pássaro, você é o nosso Lançador de Estrelas, um raio de sol em cada uma de nossas manhãs.

    Seu carisma, seu talento e seu dom de iluminar as almas com suas palavras, só se equiparam ao seu caráter nobre de Rei.

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