Quem sou eu

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Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Idiossincrasia

Qual dos tesouros humanos
Não conseguimos desenterrar?...
Embora massas vivam como marionetes
Seguindo o curso e o movimento ditado
Naves ousadas traçam loop’s
Como que uma afronta aos seguidores da ordem

O que nos torna peões num tabuleiro de xadrez?...
Se o cavalo não respeita a ordem que seguem os demais
E nos caminhos de brumas, confundem,
Engendram passos que burlam a racionalidade
Nos derrubando em “xeque-mate”!

A simetria dos bonecos é tão primorosa...
A ordem é tão exata e coesa...
A arrumação é tão perfeita e convidativa...
Mas boliches teimam em desarrumar
Nos straik’s inoportunos que a vida traça

Em todo revoar existe o caos da desordem
Como nuvens de gafanhotos que devastam almas
Mas a legião sorri, pois são imortais
E dizem: “Não podemos ser devorados,
Pois não seguimos a ordem!”

E isso irrita! Porque vivem eles à margem...
Na idiossincrasia dos perdidos
Dos felizes que convivem com a miséria
E ainda assim contentes e plenos permanecem,
Pois trazem da arca profunda dos seres
Algo inexplicável que os fazem diferentes dos demais

Uma ânsia audaz de sonhar
Uma impetuosidade quase ofensiva de viver
Uma pirracenta persistência em lutar
Um irritante vigor que os permitem erigir sempre
Enquanto todo o resto sobrevive entre as massas
Seguindo a ordem da marcha na cadência dos tambores...

Dizem que os unicórnios não existem...
Que o Pégasus já morreu há milênios...
Que foi mentira que Teseu derrotou o Minotauro
E que Ícaro afundou nos mares depois do vôo...

Mas temeroso arrisco em dizer:
Todos eles vivem em nosso mundo
Desafiando regras em galopes alados...
Se tele-transportando na pureza dos chifres...
Enfrentando monstros com novelos de lã...
Ou usando cera pra fugir em busca dos sonhos...

A forma, a métrica e a rima não existem para eles
Apenas o diletantismo de viver, e falar, e sorrir...
Como se o tudo e o nada fossem uma única coisa,
Misturando passado, futuro e presente num único caldeirão
Impetuosos bruxos são...

Reis e rainhas da plenitude humana...
Vencedores do xadrez da vida...
Semeadores dos jardins dos sonhos...
Detentores da pedra filosofal da existência...
Fragmentadores de crisálidas...

O que nos resta?...
A submissa reverência,
Ou a ruptura das teias da marionete do “Eu”
De um lado a cadência, do outro o descompasso...
De um lada a inércia, do outro o movimento...
Em minhas mão tenho uma moeda,
De um lado “cara” do outro “coroa”!...

Edson Pereira
29/01/09

sábado, 11 de abril de 2009

Homens de Mármore


Para ti, a quem se assemelha
O homem pálido e estático
Rígido e rústico
Tal qual estátua de mármore
Petrificada a buscar os céus?...

E quem senão Prometeu
Ladrão do fogo divino
Poderia se apiedar de tão ínfimos seres
Deixando sua dor na eternidade
Do Cáucaso sangrento

E por que esperar que estátuas
Ganhem vida e movimento
E de alva rocha
Pele rubra, pedra possa se fazer?...

Como se transgressores atemporais
Pudessem ganhar o perdão dos deuses
E o reconhecimento dos ingratos mortais
Na traiçoeira tirania do anonimato

Os heróis morrem nas batalhas
Pois homens não são
E incorruptíveis têm seu coração
Feito de dores e sorrisos
E juventude eterna de espírito

Aos covardes resta a pseudo honra
De esconder-se na busca do prêmio da vida
E na fecunda velhice sombria e solitária
Que umedece travesseiros angustiados
Pelo que não foi conquistado...

Asas de abutre rasgando pele
E sangrando a opressão
Erguem os braços em vitória
Os “Prometeus” da nossa história
Com jovialidade imortal
Sorrisos ganham forma
No infinito tempo iluminando o sol

E por meros instantes
Meu olhar surrealista vislumbra
Centenas de estátuas do mais branco mármore
Bailando graciosamente no horizonte
Como se o humano pudesse transpor a ponte
Entre o divino e o real

De braços abertos
Asas rompendo pedras ganham a imensidão
Num mágico revoar
Minha percepção descortina o véu:
Os homens de mármore
Presos não estão ao Cáucaso
Como pensam os covardes...

Mas voando, Incólumes do mundo
Tal qual borboletas
Que abandonam as cascas
Para poderem alçar vôos mais ousados.

Edson Pereira
09/02/05

terça-feira, 7 de abril de 2009

Grilhões do passado (Homenagem ao maior Poeta Alado: Castro Alves)


Se pudéssemos voltar no tempo
E eclodir como canto de pássaros
Em revoada de liberdade
Nas gargantas sufocadas do mundo,
Como se a vida sempre tivesse existido
E nunca extinguido:
O canto do Uirapuru;
As penas do Beija-flor rei;
O olhar do Mico leão;
E a rósea cor do Boto.

Como se nos 500 anos de degradação
E chacina ao próprio sonho
Pudéssemos nos arrepender
E trazer de volta à vida
A decomposição de nossas próprias almas.

E derramando a fetidez do nosso pútrido hálito
No mais profundo abismo,
Quem sabe assim, não devolvêssemos ao mundo:
A virgindade das nossas matas;
A dignidade dos nossos índios;
O altruísmo no coração dos homens;
A reverência de Zumbi dos Palmares pela
Quebra dos grilhões e da dor eterna,
Restaurando no semblante do poeta dos escravos
O sorriso e o respeito que há muito perdemos.

Há... se pudéssemos voltar no tempo...
E somar em vez de subtrair,
Teríamos então, condições de comemorar
Em vez de chorar pelos 500 anos
De degeneração da nossa própria terra.

Mas ainda é tempo...
Vamos voar para além do poente.
Pois para um choro existe sempre um sorriso,
E o sorriso é sempre um sinal
De que uma semente pode germinar um novo mundo!

Edson Pereira
14.03.00

Faces da Verdade


Há um mistério por detrás das palavras
algo que está acima da lógica e das emoções,
da verdade e do olhar
um galopar nas patas da mentira
uma sombra velando a verdade!

Não se pode explodir tentando demonstrar o que não se é
Nem dissolver na hipocrisia das palavras ditas sem o coração
A verdade encara os próprios medos
Com semblante de espelho do pavor
Por medo de dizer eu estou aqui!!!

Eis a verdadeira face....
Amá-la ou odiá-la é uma simbiose inseparável
A autenticidade é uma espada afiada em duplo gume
Com um lado destrói o inimigo
E com o outro a si mesmo

As máscaras não revelam apenas um personagem
Mas reflexos diferentes de um mesmo “eu”
Um universo fragmentado e uno
Que retorna do oceano à nascente
Como se no ponto de partida
Residisse a essência da plenitude humana

Edson Pereira
19.09.05

Engrenagens de Mundos


Muitos se sentem impotentes
Para mover as engrenagens
Deste mundo quase atrofiado
De ideais dignos

E estes cirros nos céus
Que a metamorfose cria
Ante olhar intrigado
Namplitude azul roial
Em turbilhões de pensamentos

Enquanto as traças dormem
Poetas escalam montanhas
Na superação dos ousados
Em busca de asas
Perdidas em casulos

Finas teias constroem homens
Na idiossincrasia dos inocentes
Planando inconscientemente
Em céu diferente do convencional

Um mero pé de feijão
Pode enramar-se pelo rígido carvalho
E atingir às nuvens
Antes que o pretensioso galho mais alto
Da descomunal árvore
Ouse blasfemar opulência

As asas dos cavalos selvagens
São mais valiosas
Que o invisível chifre dos unicórnios
Pois as misérias humanas e a fome
Jamais lhes servirão de comparação
Numa escolha entre
O marasmo do conforto
E a privação dos ousados

Enquanto a areia
Da ampulheta do tempo
Escorre fatídica,
Estátuas e pássaros
Trilham caminhos antagônicos
No presente construtor de mundos.


Edson Pereira
20.06.2004

Dualidade Antagônica


Raciocínio, mecanismo dedutório e lógico
Construção concreta de fundamento linear
Um parâmetro palpável para o cético
Um momento de rigidez para o místico
A moldura do quadro do pintor
Os cadarços das sapatilhas da bailarina

Mas quando o pensamento ganha formas
O lógico e o concreto se dilatam em surrealismo
O linear em tridimensional
O palpável, fluídico e abstrato se torna
E de lúgubre rígido, flexível se converte
Dando profundidade e dégradé
À estática moldura
E cadarços e sapatilhas, ganham flutuabilidade
Na inexplicabilidade dum mágico bailar

E que grades pode haver
Na liberdade do pensamento humano
Quando cede asas à imaginação?
Das penas esvoaçantes do “ícaro” à liberdade dos “Prometeus”
Vôos vertiginosos que produzem a emoção
Que o retrato jamais proporcionará
Pois não trarão consigo a linguagem dos ventos
A dilatação das penas e a taquicardia do coração

Mas um raciocínio lógico
Que converte em paisagem
Algo que nunca alcançará no élan do pensamento
Que toca, cheira, sente e vê...
Muito além dos olhos da matéria


Quem pensa, não simplesmente existe...
Flutua por terras longínquas e inimagináveis
E está além do tempo e do espaço
Enquanto o raciocínio sobrevive
Aos traços marcados pela sua própria lógica
Traçando caminhos e demarcando
Os limites internos da sua circunscrição.

Edson Pereira
19.09.2005

Crise Poética

Emudeço entre cataclismas
E os escombros que soterraram a poesia
Nem dos mares e oceanos sobra maresia
E os falsos hipócritas eloqüentes em sofismas

Me falam de miséria e fome
E apartam do belo a utilidade
Como se o homem não tivesse sede da verdade
Que a cada dia incessantemente o consome

E milhões de olhares
Para distrações se desviam
Ignorantes e alucinados caminham
Como cães mordendo os próprios calcanhares

E degradam suas asas em crisálida
Como triste borboleta amordaçada
Que dum grito mudo se tornou cansada
De ouvidos tampados e surdos pela vida

Uma vida que só sabe existir
Malmente come, pois perdeu seu brado
Se contenta com pouco pois acha que é seu fardo
Que só lhe permite mendigar, pedir e dormir

Escravos paralisados se tornam
Em frente de quadradas telas
Ante os monstros que invadem até favelas
Entorpecendo com suas imagens, deixam os que catatônicos sonham

Como máquinas sem alma
Desprovidos de voz, e vez, e vontade
Trabalham, cantam e dançam achando que tudo é verdade
Uma verdade do tamanho da palma

De mãos que perderam a identidade
Que o escrever traçou caminhos distantes
Como os moinhos de vento de Cervantes
E livros ler?... uma fútil vaidade!

Imaginem a poesia?
Que do meio da crise outorga asas
A vermes que rastejam em lamas rasas
Ínfimos se acham diante da utopia

Mas na simbiose de palavras e belezas escondidas
Um poder descomunal pôde se tornar
E a ira de mil dragões aplacar
No revoar da ignorância, cultura muda vidas

De serpentes que rastejavam ao chão
A poesia em poder volta a brilhar
E o medíocre homem do chão, ao céu volta a voar
Como letra de uma verdadeira canção.

Edson Pereira
10.04.2004

Borboletas Camicases


Me permito sentir
Tudo que a vida me proporciona viver
E o medo sempre o batizo com o baluarte
Que não me permite recuar

E no limite do topo
Nunca concedo à pretensão
Me estender o trono da inércia
Que me limita uma conquista
Pois nos céus sempre haverão
Espaços mais longínquos
A espera de vitórias porvindouras

E quando lágrimas umedecem minha face
Pela estrela que não consigo tocar com as mãos
Mais forte continuo,
Pois o universo sempre me presenteia
Com tamanha inspiração
Que se reverbera de mundos em mundos

Portanto, toda vez que meu peito chora
Mais alegre o cosmos permanece
Pelas minhas palavras soltas voando ao vento
Que se doam como borboletas camicases
De alimento ao pássaro
Para atingir vôos mais ousados
Rumo à imortalidade

Palavras são mais fortes que homens,
Pois se perpetuam atemporais
Enquanto a carne,
O verme converte em pó
No ciclo natural do germinar ao fenecer

Receba então estas palavras
Como uma rosa vermelha
E aproveite seu aroma e beleza
Nos infinitos segundos que os ponteiros do tempo
Lhe permitam vicejar

Pois o momento presente
Pode ser a única lembrança
Que faça verdadeiro sentido
No distante amanhã.

Edson Pereira
27.05.2004

Arco-Íris dos Povos


Sou uma sombra!
Venho de outras eras,
Polinizado em estranhas reentrâncias,
Procedo da escuridão do Cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!

Não sou negro, traçado de genes africanos;
Muito menos branco, genótipo do hibridismo europeu;
Não sou oriental, asiático de olhos esticados;
Nem índio, de pele morena e corpo delgado;
Tampouco sou mongol, das tribos geladas do sul.

Sou o arco-íris dos povos
Miscigenação poliétnica de traçados abstratos
Quase vangoghianos
Sou negro de olhos azuis,
Loiro de pele morena,
Branco de cabelos duros

Sou a metamorfose na osmose de todas as raças
Estou acima do preconceito da razão e da lógica
Na simbiose de todos os mundos
Sou deus sol vestido de mera criatura
Estou no sorriso de todos os anjos
E no desespero de todos os demônios
Sou a raça do Brasil!

Edson Pereira
2002


Portanto, não me venham impor sua falsa cor,
me chamando de negro sujo, branco nojento, amarelo sem sal...
não me tragam suas camisas com 100% de negritude
ou me ofusquem com oxigenadas que mimetizam raças.
Porque não se pode separar o que o universo uniu,
nosso sangue multicor.
Adaptação para a semana do Negro em 2004