Quem sou eu

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Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)

terça-feira, 24 de agosto de 2010

HADES


Gira mundo, sopra o vento na copa das árvores
Rosas florescem e orquídeas fenecem
Ruídos de sorrisos inundam as manhãs
Soluços de choros assombram as madrugadas

Chegamos chorando num túnel negro de lodo e sangue
Partimos perplexos apavorados com o dom de voar
Em direção ao túnel branco e ofuscante
Da incerta possibilidade da sobrevivência da consciência

A extinção da vida é muito mais simples do que se imagina...
Não importa a causa...
Não importa quem causa...
O efeito é inadiável, como no “conto de Samara”...

O que verdadeiramente importa
É o caminho percorrido até o mergulho
E novamente estamos aqui, juntos ou não!
No templo do dia ou na mansão das sombras...

Eis a questão...
A nobreza do espírito não está no sofrimento,
Nos belos atos ou no crescente egoísmo cotidiano
Está na maiêutica que seu personagem de carne
Faz ao coadjuvante univitelino e sílfide envolto em brumas

E a cadaverina que emana do ente pútrido
Desvencilha alma alada da lagarta em casulo
E sorri da ignorância dos que choram por saudade
Brindando as almas ao reencontro em revoares

O tempo passa, o choro seca e amnésia se esquece
E hoje, quem chorou é chorado quando entra no casulo
E o ciclo se repete infinitamente enquanto ignorantes choramos
Gira mundo e sopra o vento na copa das árvores...

Edson Pereira
Reserva Roosevelt-RO, 25.08.2010

sábado, 21 de agosto de 2010

Espelhos


Espelhos
O Sentimento é o tilintar das espadas celestes
O fulgor e o dégradé das emoções
O bailar do combate harmônico dos astros
No sublimar dos sentidos ornado de brumas
E exequível no planar das melodias sublimes

Um vulcão rodeado de cidades
De um lado a impetuosidade e do outro a servidão
Em uma mão, a manutenção cotidiana da vida
Na outra, a evolução mutante e indeterminada da morte
Uma dicotomia simbolicamente antagônica

Mas isso, nos permite erigir revoares impetuosos
Gritos tonitruantes que se reverberam em mundos inimagináveis
Mergulhos indecifráveis em almas no mirar de retinas reticentes
Que anseiam pelo néctar da inquietação que ressuscitam almas
Do lodo imergido no ostracismo construído nas osmoses

Quem somos nós?
Marionetes digladiando com fantoches?!
Descobrimos o obvio, mas se nos gritam que o melhor vôo
Reside no túnel das minhocas, titubeamos em acreditar
E ao lodo nos impregnamos de fétidas almas vãs

Afogados e misturados estamos à unidade
Marchamos na cadência das tropas de autômatos
Camicases desprovidos de coragem e razão
Sonhando um dia no fragmentar do próprio cérebro-casulo
No revoar das asas do amplo discernimento

E quem sabe o inseto símbolo da metamorfose
Pousar não possa nos ombros das cegas minhocas felizes
E balbuciando sua enigmática linguagem abstrata
Olhos abrir possam, num mágico desipinotizar de mentes
Despertando de recônditos profundos os até então perdidos

A reciprocidade é a dualidade mimetizada de unidade suprema
Diletante é para a alma, sentir a simbiose sem perder-se no vácuo da alienação...
Por isso os sentimentos não podem ser mensurados,
Nem expressados na dialética das palavras ou de rebuscados sofismas...
A nós, meros mortais, melhor apenas sentir e reservar-se à sapiência do estado silente!"

Edson Pereira
Reserva Roosevelt-RO, 21.08.2010

terça-feira, 17 de agosto de 2010

Canção do Amor


Não acabará jamais o amor,
Nem as feridas rasgadas nas entranhas,
Nem o tempo que esvai as belezas,
Nem o azimute das rosas dos ventos,
Tampouco a foice do temido Hades...

E a prova pensada no manto do tempo
Dispensa a pena do sagrado Ícaro
Bailando nas nuvens das sombras de Creta
Solene levanta seu canto estridente
E a estrofe minha que emprega mil dedos

Audaz violenta os choros da noite
Despertam em auroras sorrisos celestes
Tal qual querubins em harpas sublimes
E tonitruante grito aos céus se resvala
Ao raio inciso no arco do tempo
E ao músculo pulsante indômito instaura

E os átrios compassos em ritmos fortes
Comprimem semblantes em plácidas faces
Que disfarçam firme a dura saudade,
Do tempo que esmaga
E a distância que espreme

Verdades caminham de mãos com o tempo
Te adorando muito além deste século
E o presente insano alheio a distâncias
Agita bandeiras de sorrisos plenos
Morrendo em ausências nas lânguidas faces

E os corpos que anseiam volúpias de toques
Serrilham seus dentes travando vontades
Num canto em gemido uivando pra lua
Lobos acorrentam seu siso do instinto
Parados no oceano em berg’s de gelo

E orvalho de orgasmos aguardam sublimes
A canção das flores que a vera fecunda
Qual suculenta pêra areada e doce
Olfatos de rosas flutuam no ambiente
E o vulcão extinto na espera da chama

Erige voraz o arcabouço do espaço
E fogo brilhante lançado à distância
Demarca o terreno dos pegos distantes
E ampulheta rígida parada no tempo
Quebrada espalha a poeira brilhante

E o brilho distante formado de brumas
Ao chão se contorna em corpos e suores
Em toques e lábios, em cheiros e gostos,
Em gritos tão loucos sem Freud nem Jung
Sufocam superegos e motivam Id’s

Que pairam insanos acima dos sonhos
Tangível no corpo mas por ele negado
Amar não permitem diletante estarem
Pois sofrível é a vida pra o mundo dos sanos
Que não se permite desejos viver

Nem corpos tocar, nem beijos sorver,
Nem olhos mirar, nem cheiros sentir...
Por isso sou louco, insano poeta
Que deseja fadas além das mulheres
Flutuam no espaço e tomam seu sexo

Não temem desejos nem frustram distâncias
Bailando em estrelas que o céu não comporta
Mergulham em querências como elas não o fazem
Flutuam nas matas, deslizam no’espaço
E lá se deleitam com as flautas dos faunos.

Edson Pereira
Santarém – PA, 22/11/2009

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dialética das Rochas


Olho de baixo, a imensa escadaria
A grossa corrente quase tocando o céu
O gélido vento que dança entre as brumas
Nuvens espessas tocando nosso hálito

Nada mais será como foi...
Homens urbanos num ambiente inóspito
Sobreviver acima do dever num rumo incerto
A linguagem perdida de um novo mundo

E corpos se abrem ao desconhecido
O suor quase congelando os semblantes
Os pensamentos dissipados nas gotículas
A imensidão em retrato celeste

Os músculos láticos tremulando verbalizam
Na dialética lasciva, rocha torna-se amante
Céu e montanha em dicotomia perfeita
Gritando atemporal em tonitruante silêncio

E o vento que aos ouvidos balbucia
Traça as trilhas dos ousados altiplanos
Reescreve pergaminhos invisíveis
E decifram os que vencem sobre as pedras

E aqueles que degustam todo o vento
Afagam a face doce da montanha
Que na dualidade suprema transitam
De bondosa Gaia à Hécate cruel

Se eu recitasse tal poema, poucos entenderiam
Apenas aqueles que grudados ao paredão
Encontram acalento nos pegos vertiginosos
E pavor sentem do leito e da prostração

Agora descanso, mas o sonho não me abandona
Nem as pedras incrustadas sobre a mente
Os meus dedos tateiam frestas de lembranças
Das futuras rochas que ansiosas me aguardam

Não escondo do mundo a minha paixão
Para os loucos, rótulos são comuns
Mas cercado estou de uma celeste tribo
Que levitam muito além do mero chão!

Edson Pereira
Rio de Janeiro – RJ, 27/07/2010

segunda-feira, 22 de março de 2010

Último Dia


Um dia sonhei que estava voando
E ao meu lado pairava um anjo de alvas asas
E a ele eu perguntava se estava sonhando
Ele me dizia que a morte era mais bela do que eu imaginava
E que se eu pudesse voltar ao mundo por apenas um dia
O que faria neste curto espaço de tempo?

Se eu tivesse um dia pra viver...
Correria nu pela cidade, plantaria um jequitibá,
Jogaria todos os medos restantes pela janela,
Provaria dos mil sabores gelados,
Andaria pelas trilhas proibidas,
Abraçaria novamente os excluídos,

Se eu tivesse um dia pra viver...
Se o amanhã não mais existisse...
Mergulharia de cabeça no mar,
Degustaria os milésimos de segundos,
Apagaria todas as fotos do meu not,
Ligaria pra todos os amigos que nunca mais vi...

Se eu tivesse um dia pra viver...
Atravessaria uma nuvem antes de abrir o pára-quedas,
Nadaria no canal da mancha,
Dançaria flamenco nos platores de Machu Picchu,
Faria uma serenata por um sorriso,
Ligaria pro banco pra negociar minhas dívidas... (Ri)

Quem imaginaria que a vida é tão deliciosa?
Se a possibilidade da ausência dela
Joga nanquim nas nossas mais medíocres obras de arte
O comum é marchar na cadência das tropas
Mas fugir do comum é um modo de vida para poucos
Então vale a pena viver, porque não se pode viver duas vezes.

A luta pela plenitude é sempre digna – Disse o Anjo –
Mesmo que por um dia, um ano ou sempre...
Cada segundo conta porque a vida pode revoar agora
A ampulheta de vidro sempre quebra...
E um dia descobrirá que vale a pena perdoar velhos inimigos
E dizer eu te amo pra quem verdadeiramente amamos

Descobrirá que antigas lembranças são jóias raras
E que a pessoa dos seus sonhos
Sempre esteve mais perto do que imaginava
E agradecerá a Deus, no seu último dia
Por ter a oportunidade de descobrir o amor
Mesmo sem descobrir até então, que sempre tinha amado.

Descobrirá que você deixou sua marca no mundo
Mesmo sem uma assinatura em uma obra de arte famosa
Ou um monumento de bronze em praça pública
Sua marca ficou na libertação de um coração partido que consolou
Num simples abraço entre lágrimas de angustia
Numas simples moedas com um sorriso depois de limpo o pára-brisas
(Não pelas moedas, mas pelo sorriso)

Descobrirá que nunca é tarde demais
Para pedir perdão e perdoar
Ou fazer um pedido para as estrelas,
Mesmo que esqueçamos quase sempre de agradecer
Verá que é importante valorizar as pessoas ao seu redor
Mas sem em momento algum esquecer que você merece valor.

Então faça o que for preciso
Porque você não poderá surfar contra a onda
Ou desistir de um Bung Jump depois que já pulou
Pois os dias não correm para trás
E os momentos abençoam as horas passadas
Pois você é o que viveu
E sua história já foi lançada na eternidade.

– O Anjo pairou um tempo num planar sereno e me disse –
Como pretende burlar o Anjo do Tempo
Para tudo isso realizar em apenas um dia? – Respondi entre um sorriso –

Não precisarei, comecei a enganá-lo quando nasci!

Edson Pereira
Uruará - PA, 22/03/2010

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Vidas Pelo Avesso


O que estamos vendo, ouvindo e deixando entrar nas nossas CASAS?

Ouçam a música do tema de abertura e Reflitam!

Que objetivo pode ter quem escreve uma letra dessas e que intenção tem quem escolhe esta música para tema de uma novela com larga escala de audiência?

Se a “Lei da Atração” recria o que desejamos consciente ou inconscientemente, o que estamos atraindo para nossas vidas quando cantamos determinadas músicas?!...

Não estamos falando simplesmente de afastar Deus do nosso convívio, mas de afastar tudo de positivo e belo que temos e está por vir!



" O tema de abertura da novela cama de gato é uma apologia à desgraça. O entoar, cantar, repetir, acompanhar a letra desta música é materializar tristeza e destruição dentro de suas vidas e lares".
É nítido o que está escrito. Se não acredita na física quântica ou na “Lei da atração”, apenas preste atenção no que esta Oração (ao Avesso) diz:

Tema da nova novela da Globo - Cama de Gato!

Pelo Avesso
Grupo Titãs

Vamos deixar que entrem
Que invadam o seu lar
Pedir que quebrem
Que acabem com seu bem-estar
Vamos pedir que quebrem
O que eu construí pra mim
Que joguem lixo
Que destruam o meu jardim
(essa parte inicia pedindo e atraindo Opressão para os lares)

Eu quero o mesmo inferno
A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro
(Ausência de Deus e Falta de esperança)

Vamos deixar que entrem
Que invadam o meu quintal
Que sujem a casa
E rasguem as roupas no varal
Vamos pedir que quebrem
Sua sala de jantar
Que quebrem os móveis
E queimem tudo o que restar
(Sujar, rasgar, quebrar, queimar, destruir... Lançar e redirecionar ao universo apenas destruição)

Eu quero o mesmo inferno
A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro

Eu quero o mesmo inferno
A mesma cela de prisão - a falta de futuro
O mesmo desespero
(O inferno é o sofrimento e a falta de Deus “Esperança”. Um mergulho na humilhação, no desespero, na prisão dos próprios sonhos...)

Vamos deixar que entrem
Como uma interrogação
Até os inocentes
Aqui já não tem perdão
Vamos pedir que quebrem
Destruir qualquer certeza
Até o que é mesmo belo
Aqui já não tem beleza
(A interrogação: Será que o que falamos, pronunciamos e desejamos se materializa no real? Que tal experimentar mentalizar o que se deseja! Harmonia ou sofrimento?...)

Vamos deixar que entrem
E fiquem com o que você tem
Até o que é de todos
Já não é de ninguém
Pedir que quebrem
Mendigar pelas esquinas
Até o que é novo
Já esta em ruínas
(Quem de nós quer mendigar ou viver em ruínas?... Quem ousaria mentalizar algo, mesmo com a mais remota possibilidade de que isso pudesse ser materializado nas nossas vidas?)

Vamos deixar que entrem
Nada é como você pensa
Pedir que sentem
Aos que entraram sem licença
Pedir que quebrem
Que derrubem o meu muro
Atrás de tantas cercas
Quem é que pode estar seguro?
(Quem convidaria um invasor a sentar-se como um convidado? Quem desejaria que destruíssem o que constrímos?...)

Eu quero o mesmo inferno
A mesma cela de prisão - a falta de futuro
Eu quero a mesma humilhação - a falta de futuro

Eu quero o mesmo inferno
A mesma cela de prisão - a falta de futuro
O mesmo desespero
(E a ênfase à falta de futuro, à prisão e ausência dos sonhos e ao desespero!!!)

Cuidado com o que pronunciamos, com o que atraímos de forma inconsciente para nossas vidas!

Muitos não acreditam em Física Quântica e muito menos na Lei da Atração... alguns sequer ouviram falar. Mas se quiserem conhecer um pouco mais, indico:
Livros: “O Tao da Física” de Capra e “O Segredo” de Rhonda Byrne
Filmes: O Segredo e Quem somos nós...

Não espero que acreditem em energia, em Física Quântica, em materialização de palavras, no poder da oração... Não espero transformar céticos em religiosos, apenas descortinar um universo obscuro.

Aos que tem olhos de ver e ouvidos de ouvir...

Se eu pudesse reescrever essa música, ela seria mais ou menos assim:

O Direito do Avesso
Edson Pereira

Vamos deixar que entrem
Que abençoem o seu lar
Pedir que alegrem
Que elevem o seu bem-estar
Vamos pedir que elevem
O que eu construí pra mim
Que joguem flores
Que construam meu jardim

Eu quero o paraíso
A mesma praia e um calorzão – Melhorar seu futuro
Eu quero a humanização - Melhorar seu futuro


Vamos deixar que entrem
Que invadam o meu quintal
Que varram sua casa
E ponham as roupas no varal
Vamos pedir que arrumem
Sua sala de jantar
Que limpem os seus móveis
E decorem tudo o que restar

Vamos deixar que entrem
Como uma exclamação
Até os inocentes
Aqui se alegram como irmãos
Vamos pedir que elevem
Construir toda certeza
Até o que é mesmo belo
Multiplica sua beleza

Vamos deixar que entrem
E usufruam com o que você tem
Até o que é de todos
Pertence aos que nada têm
Pedir que acolham
Os que mendigam pelas esquinas
Até o que é ruína
Agora se torna novo

Vamos deixar que entrem
Tudo é como você pensa
Pedir que sentem
Aos que entraram convidados
Pedir que pintem
Façam arte no meu muro
Atrás de tantas flores
Quem precisa estar seguro?


Eu quero o paraíso
A mesma praia com um solzão – Melhorar seu futuro
Eu quero a humanização - Melhorar seu futuro

Eu quero o paraíso
A mesma praia e um calorzão – Melhorar seu futuro
A mesma esperança

(Se não tem nada de útil ou positivo a escrever ou falar... Não escreva nada ou fique calado!)

Por: Edson Pereira

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Lançadores de Estrelas


Lançadores de Estrelas (Autor: Edson Pereira - 1990 )

Esta história poderia ser contada de muitas formas: um beija-flor que tenta apagar um incêndio numa floresta, um velho fazendeiro que as desgraças da vida não conseguem abater... enfim, retrata a necessidade de fazermos nossa parte neste mundo, pois o que fazemos no presente, repercute no infinito, como uma pedra que jogamos num plácido rio reverbera suas ondas no universo, mesmo que não possamos ver.

Um menino chamado Jonathan sonhava em ser um grande escritor. Estudou muito e cresceu imaginando em ajudar muitas pessoas com seus livros.
Ele se tornou psicólogo, e começou a ajudar as pessoas, primeiramente no seu consultório. Foi construindo o seu sucesso, à medida que se aprofundava mais e mais nos seus estudos da mente humana. Casou-se, teve filhos e escreveu livros, como sempre planejara fazer. Seus livros correram o mundo e se tornaram verdadeiros “Best-seller’s” trazendo fama e riquezas.
Dr. Jonathan, como agora era chamado, viajava pelo mundo fazendo conferências, palestras e seminários, não lhe sobrando muito tempo para viver, propriamente sua vida. Seus filhos cresceram, casaram-se, seus cabelos ficaram grisalhos, depois brancos e um dos poucos dias em que ficou em casa, sua mulher o interrompeu no sagrado ofício do estudar e começou um diálogo talvez essencialmente e interiormente instrutivo.
- Jonathan, eu sei que o que está fazendo é muito importante, mas precisamos conversar...
- Querida, será que podemos deixar esta conversa para depois? Preciso terminar esta resenha.
- Há trinta e dois anos deixamos esta conversa para depois. Você sempre enfurnado neste escritório, deixando as férias das crianças sempre para o ano seguinte.
- Mas você sempre os levou para viagens, passeios, férias em muitos lugares. Eles sempre viveram muitas...
- Estou falando de você Jonathan! Sua velhice chegou e você não viu. Não viu seus filhos crescerem, não aproveitou a vida como deveria, nem sequer conheceu sua maravilhosa casa de praia que compramos há cinco anos. E que neste final de ano, como Priscila está casada e Rowan estudando no exterior, terei que aproveitar sozinha pelo que vejo.
- Nossa casa de praia... – Jonathan levantou-se do escritório, e sem dizer mais nenhuma palavra se dirigiu para o banheiro.

A mulher, arrasada achando que seu marido jamais acordaria do seu quase eterno casulo, se dirigiu ao quarto e começou a arrumar as malas para suas férias solitárias.
De frente para o espelho, Jonathan ficou assustado com a quantidade de cabelos brancos, nunca havia percebido quantas rugas havia adquirido ao longo daqueles anos que pareciam dias. Quantas férias havia deixado de aproveitar com seus filhos, que de crianças se tornaram adultos. Passaram em minutos da infância à adolescência, e da adolescência à vida adulta e ele não havia percebido. Imergido na sua fixação de sucesso, se tornara um velho, com o humor de velho que sempre tivera desde jovem. Mas será que ainda havia tempo para remediar seus erros?
Dirigiu-se ao quarto, abraçou sua mulher beijando-a apaixonadamente, que de olhos arregalados não conseguia piscar:
- O que houve Jonathan?
- Eu acordei querida. Eu acordei!
- O Quê?
- Vamos tirar férias. Férias como nunca tiramos antes. E aproveitarei cada minuto!
Na estrada, a esposa não parava de olhar assustada para Jotathan, parecia que alguma magia estava acontecendo. Chegaram à casa de praia antes do pôr do sol, e o caseiro se espantou ao conhecer o patrão, que há anos só conhecia de nome. Jonathan cumprimentou-o amistosamente e correu para o terraço para aproveitar o que restava do crepúsculo. Em seguida desceu e perguntou ao caseiro:
- Ravier, de que lado da casa nasce o sol?
- O senhor poderá admirar o despertar do rei dos astros da janela do seu quarto, basta acordar antes dele, e vê-lo se erguer da sacada. É um espetáculo maravilhoso, senhor.
- Magnífico, Ravier, muito obrigado!
A mulher de Jonathan, sorria satisfeita, pela primeira vez, seu marido se interessava pelas coisas simples da natureza e da vida.
Se recolheram cedo, e antes que o sol despontasse, Jonathan estava de pé, em frente à enorme janela de vidro, sorvendo com a alma o perfume das marés, e recebendo a carícia gélida da brisa da manhã, jamais sentira aquela sensação. Quando o sol despontou além das margens do horizonte, a beleza indescritível o deixou trêmulo de prazer embora pensasse se tratar do frio. Mas quando os primeiros raios iluminaram a praia, avistou a silhueta de alguém que parecia dançar na areia. Aguçando sua curiosidade.
- Quem será que tão cedo se expõe ao sereno da madrugada, simplesmente para dançar na areia? Ah... isso deve ser coisa de quem não tem o que fazer. Se dirigiu ao computador e passou a corrigir alguns textos. Quando deu por si, o dia tinha passado e o sol já estava se pondo. Correu para o terraço e procurou não perder a visão daquela obra de arte da Criação, embora o sol já estivesse quase que totalmente escondido.
- Quase perdi este espetáculo. Amanhã ficarei mais atento.
Novamente se recolheram cedo, e pela manhã como de costume, abriu a enorme janela e deixou que o vento penetrasse no seu quarto. Novamente avistou a figura do dançarino na praia. A figura daquela pessoa dançando na areia o incomodava deveras. Não sabia o que pensar: seria um louco? Uma espécie de terapia? Um estudante de Taichichuan? Seria muita ousadia de sua parte se intrometer na vida alheia, mas sua curiosidade...
Quando a mulher acordou, comentou com a mulher sobre o dançarino:
- Diana, estou intrigado com a figura de uma pessoa que todas as madrugadas dança na areia da praia, parece loucura.
- O que há de tão estranho uma pessoa dançar na areia da praia? Nem todas as pessoas têm desvio de personalidade ou conduta meu preocupado psicólogo... – Brincou a esposa.
- Estou falando sério! A pessoa acorda de madrugada, debaixo do sereno, molha os pés na água gelada do mar, com que objetivo? Só pode ser, ou estar ficando louco!
- Quem sabe pra ele, isso seja viver!... Ter um modo diferente de vida, Jonathan, não significa necessariamente que uma pessoa seja, ou esteja ficando louca.
- Mas...
- Se realmente está tão intrigado, por que não o procura e conversa com ele, quem sabe, não obtêm as respostas e sai desta eterna interrogação.
- Você acha que devo?
- Claro! Se não o fizer, sei que esta interrogação pode acabar com suas férias, ou então, até deixa-lo louco. – Ambos riram muito da sábia piada séria da esposa.

No outro dia de manhã, abriu a janela torcendo para que o dançarino não estivesse lá. Não queria se meter num mundo alheio, parecer invasivo e inoportuno. Mas aquilo parecia corroer suas entranhas. Precisava descobrir do que se tratava. Se poderia ajudar de alguma forma aquela pessoa, que certamente, deveria ter alguma espécie de neurose. Por um instante respirou aliviado, não vira nenhum movimento na areia, parecia que na penumbra da manhã, a praia estava deserta. Mas seu coração disparou aos pulos, ao perceber uma figura erigir do solo como Adão, nascendo do pó da terra, em movimentos majestosos.
- Meu Deus quem é esta pessoa? – Desceu as escada que dava na ante-sala, abriu a porta da varanda deixando escancarada e correu até a praia.
Disfarçou sua excitação reduzindo o passo e andando lentamente em direção ao dançarino, quanto mais perto chegava, mais seu coração acelerava. Foi chegando mais perto, e mais perto ainda. E quando quase conseguia ver o semblante do jovem à sua frente, percebeu que este não estava a dançar, mas simplesmente pegava algo na areia e lançava ao mar. Seus gestos eram marcados, e seus movimentos denotavam uma enorme paixão aos seus atos que vistos ao longe, pareciam movimentos de uma dança. Quando se aproximou mais ainda, percebeu que o jovem se abaixava, pegava estrelas-do-mar e as lançava ao oceano. O jovem sorriu amistoso para o psicólogo à sua frente, parado com as mãos na cintura, e continuou lançando suas estrelas-do-mar.
- Com licença jovem, posso lhe fazer uma pergunta? Sei que posso parecer inoportuno...
- Se estiver ao alcance da minha humilde ignorância responder.
-Claro que pode responder! O que faz tão cedo nesta praia? – perguntou sem rodeios.
- Não está vendo? Estou lançando as estrelas-do-mar de volta à sua casa!
- Sim, estou vendo! Mas por que está fazendo isso?
- Ora! A maré está vazando, o sol daqui a pouco vai deixar esta areia escaldante, todas estas estrelas que estão nesta praia irão morrer ressecadas. Eu estou tentando salvá-las.

O psicólogo riu discretamente, tendo quase certeza do que desconfiava, aquele jovem tinha algum distúrbio. Talvez fosse um louco desvairado e sonhador. E tentando segurar o riso argumentou:
- Meu jovem, você já viu a extensão desta praia, já percebeu a quantidade de estrelas-do-mar que estão espalhadas nesta areia que vai daqui até perder de vista. Não interessa quão rápido você seja na sua tarefa, por mais ágil que seja, não conseguirá nunca salvar todas estas estrelas do mar. Você não percebe que esta sua tarefa é inútil, e não fará diferença, em breve muitas estrelas-do-mar estarão mortas nesta ou em outras praias.

O jovem com um sorriso amistoso nos lábios, abaixou, pegou outra estrela-do-mar e magicamente lançou-a de volta ao seu lar. Se dirigiu ao psicólogo e disse:
- Fez toda diferença do mundo para esta estrela!
No outro dia, bem cedo, Diana passou a mão na cama e seu marido já tinha levantado. Ela se dirigiu até a grande janela e pouco depois de se maravilhar com a magnífica presença do nascer do sol, ficou intrigada ao ver a figura de duas pessoas dançando na areia.
O fato, é que Jonathan depois deste dia, resolveu se aposentar e nunca mais voltou para morar na casa da cidade.
No ano seguinte, sua filha Priscila que veio passava as férias com o marido, desceu mais cedo do que de costume para o café da manhã.
- Acordou cedo filha?
- Na verdade, pai, acordei antes do crepúsculo, e intrigada, não consegui mais dormir...
- Intrigada? – Perguntou o pai.
- É pai, quando olhei o nascer do sol pela janela do quarto, avistei na praia dezenas de pessoas dançando na areia. Quando o sol se ergueu, seguiram cada em sentidos opostos umas das outras. Com a claridade da manhã, percebi que você e mamãe estavam entre eles. Quem são estas pessoas?
- Não se preocupe, filha. São apenas lançadores de estrelas.

Autor: Edson Pereira – Inspirado no texto ”Estrelas do Mar”
Autores do texto original: Jack Canfield e Mark Hansen
Do livro:”Canja de galinha para a alma”

terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Minhas Crônicas - O Dom de Voar


Numa montanha muito distante, uma andorinha jovem passou a observar um dos pássaros do seu bando voar. Ele era ousado! Voava de forma desafiadora como se tivesse competindo com o vento. Podia riscar os céus em vôos vertiginosos e retornar às nuvens com uma facilidade inimaginável. Era tudo que o pequeno pássaro queria ser.
Sua mãe percebendo seu olhar de admiração e já imaginando o que passava por sua cabeça advertiu:
- Se afaste daquele pássaro! Ele é um péssimo exemplo para o bando.

Mas aquelas advertências o instigavam a exatamente o contrário. O tempo foi passando e ele continuava com o mesmo olhar de admiração para as acrobacias aéreas do velho pássaro. Certo dia tomou coragem e resolveu interpelar o velho Mestre Andorinhas, como alguns o chamavam, embora para os mais tradicionais ele não passasse de uma velha ave louca.

- O senhor poderia ser meu mestre de vôo?

- O que disse passarinho? – Interrogou o Mestre Andorinha meio assustado com a forma direta com que o pequeno pássaro lhe abordou.

- Não sou um passarinho! Sou uma andorinha quase pré-adolescente.

- Há, há, há... - Gargalhou sem conseguir se conter. – Sei, sei... “quase” pré-adolescente! Ou seja, um pirralho cheirando a clara de ovo!

- Eu sei que não sou muito crescido pra minha idade, mas sou muito inteligente e dedicado.

- Passarinho, procure outra coisa para fazer. Dedicar-se a arte do vôo é algo muito complexo e perigoso para os infantes. Você está na idade de arrastar penas com barbante ou saltitar de um lado para o outro em busca de pequenas formigas. Não tenho tempo a perder com você.

- Pois saiba de uma coisa, Mestre Andorinha: O senhor não nasceu sabendo! E eu tenho um objetivo. Se não pode me ajudar procurarei outro mestre, mesmo que seja de um outro bando, ou então vou tentar voar sozinho até aprender a fazer minhas próprias acrobacias, mesmo que tenha que me arrebentar sozinho por estas rochas.

- Você é mesmo muito insistente e teimoso! Vou estudar seu caso e se realmente for digno de ser meu discípulo, eu serei seu mestre.

- E como poderei provar se sou digno?

Foi então, que o Mestre Andorinha teve uma idéia malvada e um tanto cômoda, principalmente para seu estômago, que com os exaustivos treinos de vôo, não lhe sobrava muito tempo para o ritual convencional de caçada da comida, como faziam as andorinhas normais.

- Vejamos... Se você conseguir capturar trezentos insetos numa só noite e colocá-los na loca da minha árvore até o amanhecer já é um bom começo para iniciarmos as primeiras aulas de vôo.

- Trezentos?! – espantou-se o pequeno pássaro aspirante a discípulo.

- Se for uma tarefa muito árdua para você...

- Não, não, Mestre Andorinha. Eu consigo!

- Espero que sim! Para o bem do meu estomago amanhã – sussurrou em voz alta para si mesmo.

- Que disse, Mestre Andorinha?

- Que veremos como se sairá amanhã.

O pequeno pássaro se dedicou com todas as suas forças para buscar sucesso sua empreitada, antes mesmo das doze horas da noite já tinha caçado mais de cento e vinte e cinco insetos, mas ainda faltava muito para completar os trezentos que precisava para concluir sua missão. Às quatro da madrugada já havia conseguido capturar duzentos e quarenta e dois, mas começou a se preocupar, pois em pouco mais de uma hora os raios do sol começariam a despontar e ainda faltavam mais dezoito insetos a serem capturados para concluir sua tarefa. O pior de tudo é que todos os insetos pareciam ter se escondido. Quando tudo parecia estar perdido teve uma idéia louca. Sempre falavam que no precipício das almas uma infinidade de vaga-lumes voava pelos paredões, embora fosse muito perigoso, não lhe sobrara outra alternativa. Voou até lá e no seu primeiro mergulho capturou três vaga-lumes. Quando os pequenos insetos se deram conta do perigo, voaram nas mais diversas direções para se esconder. O pequeno pássaro num vôo vertiginoso tentou capturar o máximo de insetos brilhantes, mas no mergulho atingiu tamanha velocidade que não conseguiu controlar seu corpo em queda livre, atrapalhou-se com as penas, rodopiou no ar e terminou batendo com violência nos galhos duma árvore seca no fim do precipício. Vendo o desespero da pequena ave emaranhada nos cipós e com as penas encharcadas de sangue, um grande pássaro veio em seu auxílio. Libertou-o com todo cuidado do emaranhado de cipós, enxugou seu sangue com as próprias penas e deu algumas dicas ao jovem e inexperiente pássaro de como voar à noite.

- O que você estava tentando fazer, se matar, pequenino?

- Não. Este era o meu teste para ser aceito como discípulo do Mestre Andorinha. Eu tinha que capturar trezentos insetos em uma noite, mas pelo jeito fracassei. Já está quase amanhecendo.

- Trezentos insetos numa noite? Isso é uma prova muito rigorosa até para os mais experientes. Seu futuro mestre já conseguiu esta façanha?

- Não sei, mas eu cheguei bem perto, se não fosse minha ansiedade...

- Você não precisa provar nada pra ninguém! Diga ao seu mestre que a verdadeira perfeição está na qualidade do que se faz, e não na quantidade.

- Eu nem sequer cheguei a ter um mestre de vôo. Você parece que conhece tanto sobre o vôo... Quer ser meu mestre? – Perguntou na costumeira forma direta.

- Não posso ser seu mestre... ainda tenho muito o que aprender! Posso ser seu amigo, se quiser.

- Claro que quero! Você é uma águia?

- Não. Acho que sou um falcão!

- Acha? Você não tem certeza?

- Na vida, de nada temos certeza. Uma vez, vi um velho homem sábio dizer a um mais moço: “Tudo que sei é que nada sei...” e acho que isso é uma verdade. Há pouco tempo eu achava que era um galo, hoje acho que sou um falcão, amanhã, quem sabe?...

O falcão se despediu e alçou vôo. O pequeno pássaro chegou no bando contando sobre sua aventura com o falcão. Estava muito contente, conhecera um novo amigo que o havia feito acreditar mais em si mesmo. Sua mãe o repreendeu:
- Falcões comem andorinhas no café da manhã! Vê se acaba com essas idéias loucas de se misturar com quem não presta. Já basta este ai. – E apontou para o Mestre Andorinha.

- Concordo com sua mãe! Uma andorinha não deve se misturar com falcões. Desta vez você só teve arranhões, mas na próxima, ninguém sabe o que pode acontecer?

- Mas ele salvou minha vida, Mestre Andorinha.

- Se você insistir nisso, não serei mais seu mestre!

A mãe andorinha sorriu e pensou:
- Antes uma andorinha louca do que um falcão como mestre ou amigo. Onde já se viu, andorinhas andando com falcões!

- Mas você nunca foi meu mestre, e eu nem passei no seu teste.

- Digamos que sua mãe resolveu me dar uma ajudinha durante as refeições e eu resolvi te ajudar a voar melhor. Na verdade uma troca de favores, não é dona andorinha mãe?

- Exatamente meu filho. Pode tomar estas aulas de vôo com este maluc... digo, com este tal mestre!

O pequeno pássaro triste e cabisbaixo entocou-se numa árvore e de lá não saiu até o fim do dia. Algo parecia ter deixado de fazer sentido, talvez o Mestre Andorinha não fosse o idealista que ele havia imaginado. Se vender por algumas larvas e gafanhotos... Será que ainda valia a pena acreditar numa fraude? Será que todos os pássaros eram dissimulados no que faziam?

Passaram-se alguns dias e uma nuvem de gafanhotos apareceu na floresta. Foi uma festa, todas as andorinhas capturaram muitos insetos e encheram seus papos. O Mestre Andorinha nas suas acrobacias parecia não se cansar de se exibir na captura dos gafanhotos. Eram vôos vertiginosos a mais de cem quilômetros por hora, loops e giros extraordinários. Voou tão rápido e inventou tantas piruetas que terminou batendo na água do mar a quase cento e vinte quilômetros por hora. Quando se recuperou do choque, percebeu que estava totalmente encharcado, grudado na água pastosa do pântano. O pássaro lutava, lutava, mas não conseguia vencer a densa poça grudenta. Suas vistas já começavam a escurecer, e quando estava prestes a afogar-se, uma enorme ave o rebocou para o alto, segurando-o firme com suas garras.
Já na praia, colocou-o num lugar seguro. Todas as andorinhas voaram depressa para ver um falcão carregando o Mestre Andorinha.

- Muito obrigado você salvou minha vida! Não sei como agradecer...

- Não agradeça, a vida é um eterno dar e receber. Estamos neste mundo com um objetivo muito maior do que imaginamos. Quem sabe um dia você não possa me tirar de uma situação tão embaraçosa quanto esta a qual estava? Antes de mergulhar é necessário que observe estas manchas escuras no oceano, elas grudam em nossas penas e nos impedem de voltar a voar... - E o grande pássaro começou a explicar algumas precauções que se deve ter quando se voa sobre o oceano.

- Muito obrigado! Não esquecerei estas dicas... a propósito, você não quer ser meu mestre?

- Não posso ser seu mestre, pois ainda tenho muito o que aprender... posso ser seu amigo se quiser.

Neste momento chegou à praia a pequena andorinha e falou:
- Mestre Andorinha, este é o meu amigo falcão de quem lhe falei.

E como que surgindo do nada, uma galinha pousou bem perto deles e disse com um sorriso amistoso:
- Pronto para vôos mais ousados amigo Falcão?

- Só os ventos irão dizer, querida mestra – Respondeu com humildade o falcão, enquanto alçavam vôo em direção às longínquas nuvens.

O Mestre Andorinha estupefato arregalou os olhos sem nada entender e meio que revoltado, com um tom de desdém na voz, perguntou à pequena andorinha:
- O que pode um falcão aprender com uma galinha?

A pequena andorinha sorriu de forma enigmática olhando para os dois pequenos pontos voando no céu e respondeu com outra pergunta:
- O que podem andorinhas aprender com falcões?

Autor: Edson Pereira – 20/12/2001

Minhas Crônicas - Sobre Falcões e Galinhas


Numa grande fazenda havia uma robusta galinha que chocava seus ovos debaixo de um velho carvalho. Em uma noite de tempestade um galho da imensa árvore foi arrancado por um raio quase esmagando a pobre ave, que encharcada tentava proteger seus ovos do cortante frio. Sorte igual não teve alguma outra ave que com a queda do galho teve seu ninho totalmente destruído e todos os ovos esmagados. Todos com exceção de um. A galinha aproximou-se penalizada e puxou com o bico o único ovo que havia restado, protegendo-o no seu ninho junto com seus próprios ovos.
Em pouco tempo começaram a nascer os pintinhos: eram pintinhos pretos, amarelos e marrons. Porém um pequeno ovo retardatário ainda não tinha dado sinal de vida. A mãe galinha, no entanto, insistiu em permanecer no ninho e em três dias o retardatário nasceu. Era horrível! Totalmente depenado, cambaleante e de bico aberto pedia comida, bem diferente dos independentes pintinhos que já ciscavam desde o momento que pulavam dos ovos. Mas não demorou muito e o estranho pintinho também passou a ciscar junto com seus irmãos.
O filho do fazendeiro freqüentemente alimentava as galinhas, e tinha um carinho todo especial pelo estranho pintinho que parecia sempre menor que os outros pintos do galinheiro.
O tempo foi passando e o pequeno pinto, humilhado por todos do galinheiro e merecedor da piedade e proteção do filho do fazendeiro por sua fragilidade, se tornou a maior das aves daquele lugar. Seu estranho bico negro pontiagudo, suas enormes asas e suas imensas garras, faziam daquele pássaro o Galo mais exótico daquele terreiro.
Certo dia foi trazido ao galinheiro um premiado galo de briga, ao qual pretendiam reproduzir sua linhagem.
Galo metido a besta... humilhou e bateu em todos os galos do terreiro, que não tendo condições de desafiá-lo para um confronto, escondiam-se detrás dos arbustos e corriam aos pulos com a possível proximidade do garanhão.
Certo dia o galo metido resolveu ciscar pros lados da robusta galinha, mãe do nosso exótico pinto, ou seria melhor dizer, galo. A galinha não lhe deu a mínima atenção, empinou o nariz, digo, bico, e saiu andando com seu rebolado de desdém. Humilhado pela indiferença, o orgulhoso galo arrepiou seu penacho e começou a espancar a pobre galinha. Foi a maior gritaria no terreiro, todos se revoltaram mas ninguém fazia nada para proteger a pobre galinha que já estava mole de tanta pancada. Afinal, quem naquele galinheiro queria ficar no lugar dela. Foi ai, que o exótico pinto-galo, que permanecia sempre afastado do grupo por causa da discriminação, de cima do velho carvalho percebeu sua mãe-galinha em dificuldades. Dominado pela ira, projetou-se em vôo rasante cravando fundo as poderosas garras no peito do ex-imponente galo de briga, arrastando-o pelo ar e golpeando-o de diversas formas num acesso de fúria que deixou todo o galinheiro com olhar estupefato num misto de orgulho e pavor. Após alguns segundos, a carcaça do galo jazia inerte no meio do terreiro nadando no próprio sangue. A exótica ave voou para seu costumeiro galho e naquele dia, não ouviu mais nenhuma provocação, críticas e até os olhares eram disfarçados num misto de respeito e medo. Quando o filho do fazendeiro veio colocar a comida para as galinhas, imediatamente percebeu o corpo, ou o que sobrou do caríssimo galo de raça do seu pai estendido no meio do terreiro. O menino ainda correu até os restos da ave numa tentativa vã de salvá-la, mas percebeu que era inútil.
O exótico galo voou para o menino fazendo festa e pousou no seu ombro manchado sua camisa com o rubro sangue do precioso galo.

- Então foi você? E eu que pensei que fosse a ave mais indefesa deste galinheiro! Todos os galos te batiam, todas as galinhas te escorraçavam, e eu era seu protetor. Você é um pássaro muito mau! – E enxotou a grande ave.

Tomou nos braços o que sobrou do ex-galo de brigas e correu até a grande casa para mostrar ao pai o que havia acontecido com o seu reprodutor.

- O que houve com o meu galo?! Você o atropelou com o trator? – Esbravejou o pai.

- Não, pai! Parece que ele brigou com um dos nossos frangos. – Respondeu receoso o menino.

- Então você quer me dizer que um franguinho, nascido aqui mesmo no nosso galinheiro, iria ter condição de abater o campeão panamericano de briga de galo? – Falou em tom irônico o velho fazendeiro.

- O mais engraçado é que até bem pouco tempo, até as galinhas batiam nele. Não entendo como isso foi acontecer...

- Tem algo de errado nessa história... Leve-me agora até esse tal frango. – Falou o velho fazendeiro desconfiado.

Andaram até o terreiro onde as galinhas ciscavam, e lá estava ele, imponente no alto do carvalho. O menino ergueu o braço e a exótica ave alçou vôo pousando no ombro do menino protegido pelo jaleco de couro.

O velho fazendeiro arregalou os olhos e não conteve o espanto:
- Filho, filho... Me admiro muito que ainda tenhamos uma única galinha viva neste terreiro! Isto não é um frango hiper desenvolvido, é um falcão!!!

- Um falcão pai? Que legal!!! Podemos ficar com ele? Eu posso construir um grande viveiro só pra ele...

- Você gosta desta ave filho?

- Sempre gostei, desde que era um pintinho depenado em que todos batiam.

- Filho, este pássaro cresceu, e não é um pintinho, é um falcão! E um falcão será sempre um falcão, assim como uma galinha será sempre uma galinha. As galinhas precisam ciscar, assim como os falcões necessitam dos céus e da liberdade para sobreviver. Não maltrate esta ave fazendo dela o que ela não é.

- Mas pai ele gosta daqui! Foi criado junto com as galinhas e talvez até ache que é uma galinha.

- Será? Vou te mostrar que o que fala não é verdade.

O menino soltou o falcão e ambos passaram a observá-lo. Ele voou até a árvore e pousando no costumeiro galho, ficou lá durante horas. Seu olhar triste observava as galinhas brincando e ciscando à sua frente, o grande pássaro imóvel parecia não ter gosto pela vida.
O menino foi obrigado a concordar com o pai. E na manhã seguinte, antes mesmo do sol raiar, ele e seu pai, levaram o lindo galo, digo, falcão para o alto de uma colina, e erguendo o braço, o menino deixou que a majestosa ave alçasse vôo. O falcão voou bem alto, mas em seguida retornou ao ombro do menino, que com tímida lagrima escorrendo dos olhos argumentou com o pássaro:
- Você é uma ave dos céus, um falcão! E os falcões nasceram para viver livres. Não pode viver no chão, ciscando junto com as galinhas como se fosse um simples galo. Quando conhecer melhor as nuvens, descobrirá que seu mundo é bem maior que o galinheiro que viveu. E conhecerá muitas aves que o ensinarão coisas que nem em sonho eu imagino existir. Voe meu amigo, e aprenda a viver de verdade! Quem sabe um dia eu aprenda muitas coisas contigo...

O fazendeiro abraçou o filho, satisfeito com as sábias palavras do pequeno homem. E o menino novamente ergueu os braços, permitindo o vôo do grande falcão, que sumiu nos céus, indo juntar-se a uma outra ave que de longe não dava para definir a que espécie pertencia:
- Oi, o que faz uma galinha voando tão alto? – Perguntou o falcão a uma galinha que voava muito acima da mais alta montanha.

- Não sou uma galinha, sou uma águia! – Respondeu.

- Você é uma galinha! Passei a minha vida toda vivendo com galinhas num galinheiro, e sei muito bem reconhecer uma galinha quando vejo uma.

- Como um falcão pode ter vivido com galinhas num galinheiro? – Perguntou a galinha voadora.

- Não sou um falcão! Sou um galo!!! – Respondeu o falcão.

- E o que faz um galo voando tão alto? Os galos vivem na terra, ciscando. Nunca voando acima das montanhas...

- Não sei... dizem que sou um falcão e que preciso voar!

- Engraçado, você diz que sou uma galinha, que preciso ciscar em terra firme. Mas eu lhe digo que devo fazer o meu próprio caminho! Não importa se sou diferente dos meus, se me julgam, me discriminam e me rejeitam. Vou seguir meus próprios passos aprendendo a ser galinha e a ser águia do meu jeito.

- Se quiser posso te ensinar a ser galinha... – Falou o falcão.

- Se quiser posso te ensinar a ser falcão... – Falou a galinha.

E ambos seguiram pelos céus, aprendendo e errando um com o outro durante um longo tempo. Cada um deles respeitando o eterno milagre de ser o que se é.

Edson Pereira, Salvador-BA 22/12/2000

Minhas Crônicas - A Árvore da Sabedoria


Há muito tempo, num reino próximo aos países escandinavos, um rei muito sábio teve que tomar uma difícil decisão. E quando seus quatro filhos gêmeos nasceram, temendo pela vida dos pequenos, (pois o reino vivia em constantes ameaças) sem que ninguém soubesse encaminhou-os a países distantes, onde lá, pessoas de sua confiança cuidariam da educação e segurança dos futuros herdeiros do trono.
O primogênito, chamado Uthar, ficou aos cuidados de uma tribo de valentes guerreiras amazonas.
O segundo, chamado de Nifron, foi enviado aos cuidados dos nobres espadachins ao norte da Ásia menor.
O terceiro, chamado de Hazan, foi educado pelos arqueiros de Tronhy, uma tribo guerreira dos países gelados da Antártida.
O mais moço foi levado ao templo de Shaolin, no oriente e ficou aos cuidados do monge tibetano, Aushry.
O tempo se passou e atingindo a maior idade, os jovens retornaram ao ameaçado reino de Tauran.

- Bem vindos amados filhos, bem sei que tornaram-se grandes guerreiros e assim não poderia ser diferente, pois os enviei aos cuidados de valentes, nobres e fiéis amigos que por ti dariam a própria vida se necessário fosse. Mas para viver e reinar em Tauran, acima da valentia é necessário sabedoria para esquivar-se dos conquistadores e saqueadores, sabendo recuar e avançar na hora certa para assim, derrotar os inimigos. Infelizmente filhos, a arte da guerra ainda é necessária para a manutenção da paz, sendo assim, vocês quatro deverão seguir em busca da árvore da sabedoria, e de lá deverão me trazer uma prova que me explique o porquê da sabedoria encontrada na árvore.

- E onde fica esta árvore? – Perguntou o mais velho dos filhos.

- Ao sudoeste da região dos grandes lagos, mas durante a caminhada vocês sofrerão emboscadas e testes que reafirmarão tua valentia e habilidades militares.

Quando os jovens se preparavam para sair, o rei fez um sinal e completou:
- A paciência é a maior arma do justo, e sendo assim, cada um de vocês deve buscar a árvore da sabedoria ao seu tempo. Além da sabedoria, vocês devem me trazer também três moedas que representarão a vitória entre as três emboscadas. O vitorioso sentar-se-á ao meu lado direito e reinará junto comigo, no tempo certo será o novo rei de Tauran.

E o primeiro filho do rei partiu em busca da árvore da sabedoria. Ao longo de dois meses ele retornou:
- O que me trazes? – Perguntou o rei.

- Trouxe para vós uma moeda e um galho seco.

- Onde estão as outras duas moedas?

Envergonhado ele respondeu:
- Após sair vitorioso na primeira prova do lutador, fui derrotado na prova do espadachim e não consegui acertar com uma única flecha os cinco anéis da terceira prova.

- E quanto à árvore? – Perguntou.

- Quando cheguei à árvore da sabedoria ela estava totalmente seca, na verdade mais parecia um tronco retorcido e sem vida. Retirei dela um galho seco e trouxe até vós para provar o que a árvore me quis dizer.

- E o que a árvore quis dizer a ti? – Perguntou o rei.

- A árvore me mostrou pelo seu aspecto que não há esperança para nosso reino, pois seremos assolados pela miséria e pela fome.

- O que deveremos fazer então? – Perguntou o rei querendo testar Uthar.

- Não adianta lutar por um reino de miséria, devíamos deixar que os conquistadores tomem-no. E a miséria recairá sobre eles.

Partiu então o segundo filho do rei, e ao longo de dois meses retornou:
- O que me trazes? – Perguntou o rei.

- Trouxe para vós uma moeda e um ramo de folhas.

- Onde estão as outras duas moedas?

Envergonhado ele respondeu:
- Senhor, a verdade é que de início fui derrotado na prova do lutador, em seguida, vencendo o espadachim conquistei esta moeda. Mas na prova do arqueiro fui novamente derrotado. Me responda senhor, é possível tamanha perícia de um arqueiro para atravessar com uma única flecha aqueles cinco anéis da terceira prova?

O rei nada respondeu e Perguntou:
- E quanto à árvore?

- Quando cheguei à árvore da sabedoria ela estava totalmente coberta por folhas verdes, tão frondosa que não se podia ver nem seu tronco. Retirei dela um ramo de folhas e trouxe até vós para provar o que a árvore me quis dizer.

- E o que a árvore quis dizer a ti? – Perguntou o rei.

- A árvore da sabedoria me mostrou pelo seu aspecto, que nosso reino jamais será sucumbido ante os conquistadores, pois a fartura dará aos nossos guerreiros o aspecto de homens invencíveis e nenhum inimigo ousará nos enfrentar.

- O que devemos fazer então? – Perguntou o rei querendo testar Nifron.

- Não precisamos lutar, basta alimentar bem nossos guerreiros construir torres ao redor das muralhas onde eles possam mostrar seu aspecto extremamente saudável, ninguém ousará enfrentar este exército.

Partiu então o terceiro filho do rei, e ao longo de dois meses retornou:
- O que me trazes? – Perguntou o rei.

- Trouxe para vós uma moeda e um buquê de flores.

- Onde estão as outras duas moedas?

Envergonhado ele respondeu:
- Senhor, a verdade é que após ter sido derrotado na prova do lutador e do espadachim, finalmente atravessei com uma única flecha aqueles cinco anéis da terceira prova acertando o alvo exatamente na marca onde estava a moeda.

- E quanto à árvore?

- Quando cheguei à árvore da sabedoria ela estava totalmente coberta por flores amarelas com um tom tão brilhante quanto o ouro, seu perfume inebriava o vento e sua beleza encantava os pássaros e as borboletas numa estonteante harmonia. Retirei rapidamente um buquê de suas flore e parti apressado antes que toda aquela beleza me deixasse sem forças para prosseguir. Trouxe até vós este buquê para provar o que a árvore me quis dizer.

- E o que a árvore quis dizer a ti? – Perguntou o rei.

- A árvore da sabedoria me mostrou pelo seu aspecto, que nosso reino pode se tornar invencível e até conquistar outros reinos, basta que utilizemos uma beleza tamanha que enfraqueça nossos inimigos diante de tal poderio de ouro, prata e perfumes de fragrâncias especiais. Jamais seremos conquistados e poderemos nos tornar o maior dos conquistadores.

- O que devemos fazer então? – Perguntou o rei querendo testar Hazan.

- Não precisamos nem lutar, basta forjarmos armas de prata, escudos reluzentes de ouro, elmos de bronze encrostados com brilhantes e lançarmos perfumes inebriantes e hipnóticos sobre nossas tropas, que de narizes tapados, não cairão na apatia causada pela influencia do perfume sobre a mente humana. Com os inimigos dominados, será fácil vencer qualquer exército.

Partiu então o quarto filho. Passaram-se dois meses e nenhuma notícia, seis meses e nada. Ao final de oito meses os três irmãos se reuniram e interpelaram o rei:
- Senhor. . . já se passaram mais de oito meses e nosso irmão Fahel não retornou Achais vós que devemos esperar mais? – Perguntou Hazan.

- O que achas que deve ter acontecido ao teu irmão? – Perguntou o rei aos três filhos.

E Nifron apressou-se em responder:
- Deve ter sucumbido ante às três provas. Dentre nós era o mais franzino, certamente deve ter morrido.

- O que acha Uthar? – Perguntou o rei ao primogênito testando a opinião de todos.

- Acho que provavelmente nosso irmão deve ter morrido. O lutador da primeira prova era quase invencível, treinei e lutei durante toda a minha vida, no entanto quase quebrei duas costelas para derrotá-lo. Sobrevivi graças a muito esforço.

- Neste caso amanhã nos reuniremos para decidir quem dentre os herdeiros do trono aqui presentes sentar-se-á ao meu lado direito.

Uma grande reunião foi feita no imenso templo, todas as cadeiras dos anciões estavam ocupadas, os três conselheiros tomavam os lugares de honra do reino posicionados à direita do rei. Clarins e trombetas soaram e três jovens entraram no amplo salão.
Todos de pé, o rei fez uso da palavra:
- Aqui estamos diante de três valentes jovens onde um deles deverá sentar-se ao meu lado direito. Todos sabemos que a grande árvore da sabedoria sempre nos serviu de inspiração para que muitos reinados em nossa terra se fizesse com justiça e solidariedade. A sapiência é a nossa maior arma, e por isso estes jovens estão aqui para mostrar o que a grande árvore disse a cada um deles.
O primogênito então prostrou-se em atitude de reverência ao rei e levantando o galho seco falou ao público o que entendeu por sabedoria. Em seguida o segundo filho, com seu ramo de folhas verdes e finalmente o terceiro com o buquê de flores.
Os conselheiros e anciões se reuniram com o rei e ao final de duas horas, quando estavam prestes a anunciar qual dentre os três seria o escolhido, entrou pela porta do imenso salão o filho mais moço do rei.

- Enfim chegaste meu filho! Todos acreditavam que não mais chegarias.

- E por que não haveria de retornar senhor meu pai?

- Teus irmãos achavam que havias sucumbido ante as difíceis provas das emboscadas e como demoravas a chegar. . .

- Não me lembro senhor, de que tenhais vós estipulado um tempo exato de retorno ao reino, apenas deveríamos encontrar a árvore da sabedoria e nos esforçar por entender sua linguagem simbolicamente metafórica, quanto às provas das emboscadas apenas representariam as dificuldades no caminho do conhecimento.

- Então quantas moedas trouxestes? – Perguntou o rei querendo testar Fahel, já que só haviam três moedas a serem conquistadas, e seus irmãos já haviam tomado posse, cada um, de uma das moedas.

- Nenhuma senhor meu pai!

Seus irmãos gargalharam orgulhosos, afinal, cada um deles havia vencido uma batalha ao menos, enquanto Fahel, ao que parecia, havia sido derrotado em todas elas.

- Silêncio! - Advertiu o rei com franzida fronte - Então me responda filho, foste derrotado em todas as emboscadas?

- Na verdade, a primeira emboscada não foi muito difícil de ser ultrapassada. – Falou Fahel.

Sem acreditar na façanha descrita pelo irmão, Uthar interpelou-o:
- Como pode ser?! Aquele lutador tinha quase o dobro da sua altura e era muito mais forte. Como poderias derrotá-lo tão facilmente, e sendo assim, por que não traria a moeda da primeira prova?

- Irmão Uthar, se não trouxe a moeda da primeira prova é porque já a havias conquistado antes de mim e não tendo o que me dar, o lutador deixou-me seu elmo de ouro como prova da minha vitória e eu agora entrego-o como presente para nosso pai.

- E como conseguiste derrotá-lo? – Perguntou insistente Uthar.

- Foi muito simples, apenas usei a força do adversário contra ele mesmo. E cada vez que ele me desferia um golpe, eu me esquivava e ele sofria o impacto da sua própria força, muitas vezes caindo ao chão. Em menos de duas horas de luta, meu oponente estava totalmente esgotado e indefeso.

Fahel foi até o rei e colocou o elmo de ouro aos pés do trono.

- E quanto à Segunda emboscada, como te saíste? – Perguntou o rei.

- Foi mais difícil que a primeira prova, tive que ser astuto e paciente para derrotá-lo. – Respondeu Fahel.

Intrigado, Nifron interrogou-o:
- Como conseguiste derrotar aquele espadachim? Eu que levei anos de exaustivo treino e me tornei um dos mestre entre espadachins da Ásia menor, quase fui derrotado por aquele exímio espadachim da segunda prova. Como poderias tê-lo vencido, se nem sequer possuías uma espada?

- Não precisei de espadas para vencê-lo, usei apenas um bastão de madeira.

- Um bastão de madeira?! Isso é uma espécie de brincadeira? – E Nifron começou a rir.

- Silêncio! – Advertiu o rei com duro semblante – Se não podes acreditar, pelo menos escutes o que teu irmão tem a dizer. Continue Fahel.

Envergonhado, Nifron baixou a cabeça e Fahel continuou:
- Como todos devem saber, uma espada é bem mais pesada que um bastão e enquanto o espadachim tentava me atingir com sua espada, eu me esquivava. Em pouco tempo, já ofegante, só precisei acertá-lo nos sete pontos sensíveis do corpo para abatê-lo. Como Nifron já havia lhe tirado a moeda anteriormente, e sem ter o que me dar, presenteou-me com sua espada de prata pela vitória. – E se dirigindo ao trono, Fahel colocou-a junto ao elmo de ouro.

- E quanto à prova do arqueiro, como te saíste? – Perguntou ansioso o rei.

- Atravessei com uma única flecha os cinco anéis e acertei o alvo, mas a moeda não mais lá estava.

- Impossível! Somente um arqueiro extremamente treinado conseguiria tal façanha. Terias que dedicar ao treino todos os dias da tua breve existência para conquistar tamanha vitória! – Exclamou Hazan.

- O segredo desta prova irmão Hazan, não está somente na perícia e no treino, mas na paciência.

- Na paciência!? De que forma?

- Deves ter percebido que quando o vento soprava, os anéis giravam, e desta forma ficava praticamente impossível atravessá-los com uma única flechada. O segredo desta terceira prova estava em esperar atentamente que a brisa cessasse e contando cinco segundos aguardar os anéis se reposicionassem para lançar a flecha. Desta forma se respirasse corretamente e mantivesse as mãos firmes não tinha como errar. Sem a moeda, o arqueiro me presenteou com seu arco de bronze encrostado com rubis, como prêmio pelo meu sucesso nesta prova.

E se dirigindo ao trono, colocou o arco de bronze junto aos outros presentes.

- Mas eu trouxe para vós, senhor, algo muito mais precioso que todos estes presentes juntos. – E estendendo as mãos, o jovem entregou ao rei uma pequena planta dentro de um tronco oco.

- Como conseguiste tal façanha filho! – Exclamou o rei sendo tomado por uma imensa emoção.

- Por que tanto espanto com uma plantinha tão pequena? – Cochichou Nifron para Uthar e Hazan.

- Embora não consigas entender, esta é a primeira muda da árvore da sabedoria. – Falou em tom baixo um dos conselheiros do rei.

E todos se prostraram em atitude de respeito diante da esperança viva.
O rei levantou-se e deixando uma tímida lágrima de alegria escorrer pela face até a barba grisalha, em tom emocionado o rei disse:
- Nos fale então o que a árvore da sabedoria mostrou a ti.

- Quando cheguei à árvore da sabedoria, eu estava faminto e ela coberta de frutos, escolhi o maior e mais belo dentre eles e separei para vós, coloquei-o junto com o elmo, a espada e o arco, sentei e passei a observar a árvore enquanto comia alguns frutos que dela retirei. De quando em quando alguns frutos caíam e um ou outro animal os vinha comer: antílopes, búfalos, cavalos, todos eles pareciam apreciar muito o paladar daquele fruto. Mas senti como se aquela árvore tivesse algo mais a me dizer, e como não me foi estipulado um tempo prévio de retorno ao reino, lembrei-me da vossa advertência antes de nossa partida: “A paciência é a maior arma do justo” e fui ficando e observando tudo que os símbolos me queriam dizer. Os frutos e as folhas caíram, e a árvore ficou totalmente desfolhada, levantei e retirei um pequeno galho seco colocando-o junto ao fruto que a esta altura já estava podre. Em seguida pequenos brotos surgiram dos galhos secos e após algum tempo a árvore que antes parecia sem vida, se recobriu totalmente por uma ramagem de um verde maravilhosamente indescritível. Levantei, e dela retirei um de seus ramos colocando-o junto ao galho seco e ao fruto já totalmente ressequido, do fruto seco percebi um pequeno broto romper suas entranhas. Voltei a me sentar e continuei observando a árvore, após alguns meses flores amareladas foram tomando o lugar das folhas, um perfume inebriante flutuou entre o ar e uma sensação de felicidade e harmonia contagiou o meu ser. Borboletas e pássaros voavam alegremente e tudo ao redor se tornou extremamente belo e pleno. Retirei um buquê daquela flor amarela e por um momento de descuido quase deixei que um asno comesse o broto que já estava com algumas folhas. Novos fruto nasceram e colhendo alguns deles retornei ao reino.

- Então, além da pequena árvore trouxestes algo mais? – Perguntou o rei.

- Sim! – E o jovem colocou junto à planta três galhos seco e sete frutos.

- Então digas, o que a árvore mostrou a ti? – Perguntou o rei sem mais querer testá-lo.

- A árvore da sabedoria me mostrou pelos seus muitos aspectos, que a maior das lutas não é aquela travada com os inimigos externos ou com os testes do mundo, mas com as provas e inimigos que moram dentro do nosso próprio coração. Percebi também que não existe tesouro eterno. É necessário que o fruto apodreça para que a semente germine... e muitas vezes é necessário que venha a fome e a miséria para valorizarmos a época da fartura, pois através dos galhos secos chegamos ao ramo verde. Assim como é necessário que toda beleza das flores feneça para gerar o fruto, pois tudo na vida é cíclico voltando sempre ao ponto inicial. Haverão sempre asnos querendo comer o broto e evitar que a árvore da vida cresça, mas tudo está em nossas mãos, a paz deve ser o fruto desejado e a guerra só deve ser instaurada para a conquista da harmonia e da ordem universal. Não é necessário matar o asno para que ele não coma o broto, mesmo porque, sempre surgirão novos asnos. O verdadeiro reino deve ser conquistado primeiro dentro de nós e o florescer fica a cargo do tempo.

Os anciões, conselheiro e o próprio rei, prostraram-se diante da sabedoria que aquele jovem havia adquirido.
E estendendo a cadeira ao lado direito do trono o rei convidou-o:
- Venha filho, este é o teu lugar por direito.

- Não pai! Não posso me sentar aí, não sozinho.

- Por que não? – Perguntou perplexo o rei.

- Porque meus irmãos são um complemento de mim mesmo, não temos o mesmo rosto por acaso, e eu, sem a experiência deles, não conseguiria chegar do galho seco – ao ramo verde – ao buquê de flores – ao fruto – à semente – ao broto e ao asno querendo comer o broto. Não vê pai?... nascemos de um mesmo útero, num mesmo momento para mostrar que apesar de sermos idênticos no corpo, temos almas diferente, e apesar de termos almas diferentes somos apenas um! Nosso reino não pode ser fragmentado, nem dividido. Reinaremos como um só! Os diversos momentos da árvore, são de uma mesma árvore, assim como nós.

O rei sorriu metaforicamente, não tinha mais o que argumentar. Quatro cadeiras foram colocadas ao seu lado direito.
Fahel ensinou aos seus irmão o descomunal poder da humildade. Com o tempo, ouviu-se falar de um reino onde prevaleciam a paz, a justiça e a solidariedade, e onde existiam quatro tronos, que reinavam como um.

Edson Júnior , Salvador 13.04.00

sábado, 2 de janeiro de 2010

Minhas Crônicas - Batalhas da Sabedoria


Na China antiga, quando as guerras se espalhavam ferozmente pela região fazendo mulheres e crianças vítimas de tribos bárbaras, o rei de Wu resolveu espalhar suas tropas pelo Estado para defender seu território e seus súditos. Porém com o passar do tempo, muito dos seus líderes de tropas começaram a sofrer repetidas derrotas. Apenas um dos comandantes de tropas permanecia invicto nas batalhas, e a cada passo, fazia anotações num pequeno pergaminho de couro. As vitórias cresceram, ele ganhou fama e seus pergaminhos se tornaram um compêndio de treze pergaminhos.
Boatos se espalharam por toda região, falando dos pergaminhos do comandante Sun, que o conduzia a invencibilidade nas batalhas. Os burburinhos cresceram de tal forma que foram parar nos ouvidos de Ho-Lu, rei de Wu, que começava a se preocupar com as derrotas de muitas tropas do seu reino, enquanto o comandante Sun e seus comandados pareciam magicamente invulneráveis às espadas dos inimigos. Tomado pela curiosidade, Ho-lu ordenou que trouxessem até ele os pergaminhos do comandante Sun. Assim foi feito, e após ter lido, muito impressionado ficou. Mas sua curiosidade foi ainda mais aguçada pelas receitas para as vitórias nas batalhas que pareciam tão fáceis folheando aqueles pergaminhos. Então por que tantos outros comandantes do seu reino colecionavam derrotas? Pensou então o rei:

- Avisem ao comandante Sun, que na festa da colheita ele é meu convidado principal e será homenageado pelas vitórias nas batalhas, que ele traga consigo alguns dos seus melhores homens para uma apresentação sobre a arte de guerrear. Quem sabe aprendamos com eles o segredo para as vitórias nas batalhas. – Ordenou o rei de Wu.
O mensageiro conduziu as ordens do rei, e na data marcada o comandante Sun lá estava, na companhia de um único guerreiro.

- Saudações, comandante Sun! Li os treze pergaminhos sobre a arte de guerrear que escreveste, mas ainda tenho algumas dúvidas.

- Que este humilde servo possa ter a capacidade de esclarecer vossas dúvidas majestade. – Respondeu humildemente o comandante.

- Pedi que trouxeste contigo alguns dos teus melhores homens, mas vejo que apenas um o acompanha.

- Desculpe majestade, mas não achei apropriado desfalcar minha tropa em tempos de guerra com o objetivo de entretenimentos. Povoados inteiros do Estado de Wu estão sendo dizimados por tribos bárbaras, nem mulheres nem crianças estão sendo poupados. Classifico toda minha tropa como a dos homens mais bem treinados. Como não poderia trazê-los todos, apresento-vos o guerreiro Lu-Fã, representando minha tropa.
O guerreiro Lu-Fã prostrou-se em atitude reverência ao rei.

- Poderia ele nos dar uma demonstração de destreza com a espada junto a Bonai, meu melhor guerreiro da guarda real? – Perguntou o rei observando cada expressão do comandante Sun.

- Certamente majestade! – Respondeu com semblante sereno e uma intrigante frieza.

O Rei Ho-lu bateu palmas e um grunido aterrador ecoou no salão, um homem descomunal saltou do corredor escuro gritando e girando duas espadas acima da cabeça. A multidão histérica urrava o nome do invicto guerreiro do rei que ecoava em uníssono pelo ambiente. Seu oponente, bem menor, de corpo esguio e atlético parecia invulnerável à torcida hostil à sua presença, com olhar gélido, se dirigiu em passos lentos até o centro da arena e ajoelhando-se sobre uma única perna segurou sua espada com uma das mãos, colocando sua ponta no chão apoiando-se como a um cajado. Em seguida pegou um pouco de terra com a outra mão e como que sentindo sua textura, deixou-a se esvair pelos seus dedos e levando a mão à boca tocou com o dedo indicador na língua como que sentindo o paladar da terra. O Guerreiro do comandante Sum aparentava total displicência em relação ao combate. Bonai, o guerreiro do rei, presumindo por seus gestos uma aparente fraqueza, soltou uma estridente gargalhada de presunção, correndo em seguida na direção de Lu-Fã num acesso de fúria que fazia tremer até o trono do rei de Wu, que já anunciava com um orgulhoso sorriso a vitória certa para o seu guerreiro. O primeiro golpe de Bonai, foi desviado lateralmente para a direita pela ágil espada de Lu-Fã, fazendo o aço da arma cortante do seu oponente se estilhaçar em três pedaços. De um giro rápido de pulso jogou a segunda espada de Bonai a dezenas de metros e com um pequeno toque no calcanhar Lu-Fã conseguiu desequilibrar o pesado adversário fazendo-o desmoronar indefeso ao chão, encerrando o combate com sua espada apontando para a jugular do descomunal Bonai.
Impressionado com a rapidez com que a batalha se finalizou, o rei levantou-se do trono batendo palmas, enquanto a multidão perplexa na arena, em silêncio fúnebre, também levantou e o acompanhou nas palmas, gritando agora o nome de Lu-Fã, que em uníssono ecoava ao vento.

- Impressionante comandante Sun! Me responda, como escolhe teus auxiliares?

- Costumo seguir o conselho de um antigo mestre. Uma vez perguntei como deveria escolher um guerreiro para uma batalha. Ele me respondeu o seguinte: “O homem pronto para enfrentar um tigre ou um rio em fúria sem se importar se iria viver ou morrer...”

Eufórico o rei interrompeu dizendo:
- Muito sábio este teu mestre! Também eu escolheria este homem para conduzir uma batalha!

- Desculpe majestade, mas não esperastes que eu concluísse o pensamento. Este homem é exatamente o que eu não levaria para a batalha.

- Como? – Perguntou perplexo o rei. – Então, quem levarias para a batalha?

- Levaria alguém que fosse cauteloso, comedido e que conquistasse vitórias muito mais pelas suas estratégias, que pela sua fúria e força bruta. Vosso guerreiro foi derrotado por que subestimou a capacidade ofensiva do oponente, deixou a pretensão tosquiar seus movimentos e perdeu seus reflexos, achando que na força bruta acharia o atalho para a vitória fácil.

- A que atribuis então o segredo para a vitória nas batalhas? – Perguntou intrigado o rei.

- O guerreiro necessita de sabedoria e conhecimento. - Respondeu o comandante Sun.

- E no que isso consiste comandante?

- “Se o guerreiro conhece o inimigo e a si mesmo, não precisa recear pelo resultado de mil batalhas; Se conhece a si mesmo, mas não conhece o inimigo, para cada vitória, colecionará também uma derrota; Porém, se o guerreiro não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, será derrotado em todas as empreitadas”. – Concluiu o comandante Sun.

Assim, o comandante Sun Tzu, se tornou o grande general da China antiga, líder de todos os exércitos no período dos estados guerreiros, garantindo a soberania da dinastia Wu. Enquanto viveu, a dinastia de Wu não conheceu a derrota.

Texto: Edson Pereira
Inspirado no Livro: A Arte da Guerra
Chapada Diamantina-Ba, 14/11/1998