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Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)

sábado, 2 de janeiro de 2010

Minhas Crônicas - Batalhas da Sabedoria


Na China antiga, quando as guerras se espalhavam ferozmente pela região fazendo mulheres e crianças vítimas de tribos bárbaras, o rei de Wu resolveu espalhar suas tropas pelo Estado para defender seu território e seus súditos. Porém com o passar do tempo, muito dos seus líderes de tropas começaram a sofrer repetidas derrotas. Apenas um dos comandantes de tropas permanecia invicto nas batalhas, e a cada passo, fazia anotações num pequeno pergaminho de couro. As vitórias cresceram, ele ganhou fama e seus pergaminhos se tornaram um compêndio de treze pergaminhos.
Boatos se espalharam por toda região, falando dos pergaminhos do comandante Sun, que o conduzia a invencibilidade nas batalhas. Os burburinhos cresceram de tal forma que foram parar nos ouvidos de Ho-Lu, rei de Wu, que começava a se preocupar com as derrotas de muitas tropas do seu reino, enquanto o comandante Sun e seus comandados pareciam magicamente invulneráveis às espadas dos inimigos. Tomado pela curiosidade, Ho-lu ordenou que trouxessem até ele os pergaminhos do comandante Sun. Assim foi feito, e após ter lido, muito impressionado ficou. Mas sua curiosidade foi ainda mais aguçada pelas receitas para as vitórias nas batalhas que pareciam tão fáceis folheando aqueles pergaminhos. Então por que tantos outros comandantes do seu reino colecionavam derrotas? Pensou então o rei:

- Avisem ao comandante Sun, que na festa da colheita ele é meu convidado principal e será homenageado pelas vitórias nas batalhas, que ele traga consigo alguns dos seus melhores homens para uma apresentação sobre a arte de guerrear. Quem sabe aprendamos com eles o segredo para as vitórias nas batalhas. – Ordenou o rei de Wu.
O mensageiro conduziu as ordens do rei, e na data marcada o comandante Sun lá estava, na companhia de um único guerreiro.

- Saudações, comandante Sun! Li os treze pergaminhos sobre a arte de guerrear que escreveste, mas ainda tenho algumas dúvidas.

- Que este humilde servo possa ter a capacidade de esclarecer vossas dúvidas majestade. – Respondeu humildemente o comandante.

- Pedi que trouxeste contigo alguns dos teus melhores homens, mas vejo que apenas um o acompanha.

- Desculpe majestade, mas não achei apropriado desfalcar minha tropa em tempos de guerra com o objetivo de entretenimentos. Povoados inteiros do Estado de Wu estão sendo dizimados por tribos bárbaras, nem mulheres nem crianças estão sendo poupados. Classifico toda minha tropa como a dos homens mais bem treinados. Como não poderia trazê-los todos, apresento-vos o guerreiro Lu-Fã, representando minha tropa.
O guerreiro Lu-Fã prostrou-se em atitude reverência ao rei.

- Poderia ele nos dar uma demonstração de destreza com a espada junto a Bonai, meu melhor guerreiro da guarda real? – Perguntou o rei observando cada expressão do comandante Sun.

- Certamente majestade! – Respondeu com semblante sereno e uma intrigante frieza.

O Rei Ho-lu bateu palmas e um grunido aterrador ecoou no salão, um homem descomunal saltou do corredor escuro gritando e girando duas espadas acima da cabeça. A multidão histérica urrava o nome do invicto guerreiro do rei que ecoava em uníssono pelo ambiente. Seu oponente, bem menor, de corpo esguio e atlético parecia invulnerável à torcida hostil à sua presença, com olhar gélido, se dirigiu em passos lentos até o centro da arena e ajoelhando-se sobre uma única perna segurou sua espada com uma das mãos, colocando sua ponta no chão apoiando-se como a um cajado. Em seguida pegou um pouco de terra com a outra mão e como que sentindo sua textura, deixou-a se esvair pelos seus dedos e levando a mão à boca tocou com o dedo indicador na língua como que sentindo o paladar da terra. O Guerreiro do comandante Sum aparentava total displicência em relação ao combate. Bonai, o guerreiro do rei, presumindo por seus gestos uma aparente fraqueza, soltou uma estridente gargalhada de presunção, correndo em seguida na direção de Lu-Fã num acesso de fúria que fazia tremer até o trono do rei de Wu, que já anunciava com um orgulhoso sorriso a vitória certa para o seu guerreiro. O primeiro golpe de Bonai, foi desviado lateralmente para a direita pela ágil espada de Lu-Fã, fazendo o aço da arma cortante do seu oponente se estilhaçar em três pedaços. De um giro rápido de pulso jogou a segunda espada de Bonai a dezenas de metros e com um pequeno toque no calcanhar Lu-Fã conseguiu desequilibrar o pesado adversário fazendo-o desmoronar indefeso ao chão, encerrando o combate com sua espada apontando para a jugular do descomunal Bonai.
Impressionado com a rapidez com que a batalha se finalizou, o rei levantou-se do trono batendo palmas, enquanto a multidão perplexa na arena, em silêncio fúnebre, também levantou e o acompanhou nas palmas, gritando agora o nome de Lu-Fã, que em uníssono ecoava ao vento.

- Impressionante comandante Sun! Me responda, como escolhe teus auxiliares?

- Costumo seguir o conselho de um antigo mestre. Uma vez perguntei como deveria escolher um guerreiro para uma batalha. Ele me respondeu o seguinte: “O homem pronto para enfrentar um tigre ou um rio em fúria sem se importar se iria viver ou morrer...”

Eufórico o rei interrompeu dizendo:
- Muito sábio este teu mestre! Também eu escolheria este homem para conduzir uma batalha!

- Desculpe majestade, mas não esperastes que eu concluísse o pensamento. Este homem é exatamente o que eu não levaria para a batalha.

- Como? – Perguntou perplexo o rei. – Então, quem levarias para a batalha?

- Levaria alguém que fosse cauteloso, comedido e que conquistasse vitórias muito mais pelas suas estratégias, que pela sua fúria e força bruta. Vosso guerreiro foi derrotado por que subestimou a capacidade ofensiva do oponente, deixou a pretensão tosquiar seus movimentos e perdeu seus reflexos, achando que na força bruta acharia o atalho para a vitória fácil.

- A que atribuis então o segredo para a vitória nas batalhas? – Perguntou intrigado o rei.

- O guerreiro necessita de sabedoria e conhecimento. - Respondeu o comandante Sun.

- E no que isso consiste comandante?

- “Se o guerreiro conhece o inimigo e a si mesmo, não precisa recear pelo resultado de mil batalhas; Se conhece a si mesmo, mas não conhece o inimigo, para cada vitória, colecionará também uma derrota; Porém, se o guerreiro não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, será derrotado em todas as empreitadas”. – Concluiu o comandante Sun.

Assim, o comandante Sun Tzu, se tornou o grande general da China antiga, líder de todos os exércitos no período dos estados guerreiros, garantindo a soberania da dinastia Wu. Enquanto viveu, a dinastia de Wu não conheceu a derrota.

Texto: Edson Pereira
Inspirado no Livro: A Arte da Guerra
Chapada Diamantina-Ba, 14/11/1998

Um comentário:

  1. Entre outras obras-primas, esse livro é uma biblia para mim... sua crônica está interessante e voce é meu guru e personal analist! Kisses!

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