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Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)

sábado, 26 de dezembro de 2009

MOTOSSERRAS


Como é possível que você seja capaz
De ver tombar a grande vida tão audaz
E no silencioso grito crepitar de galhos vêm ao chão
Calando o canto do uirapuru e do cancão
Que voam ao longe fugindo da devastação

E motosserras em seu som tonitruante
Debridam vidas tornadas em pó ao vento lacerante
Descomunais gigantes meigos vêm ao chão
São transportados em chaci de caminhão
Fazendo o lucro dos que se sentem o campeão

E no tombar da vida cifras em gritos clamam
O nome dos mortos que sem a clorofila choram
É itauba, muirajussara, cupiuba
Massaranduba, ipê roxo, tanibuca
E desmoronam a majestosa guaruba

Pau jacaré, mandioqueira rosa, jatobá
lauro preciosa, angelin pedra, timboraná
Esperam aflitas o elétrico machado que as derrubará
E nem o índio que o antigo protegia
O cocar moderno às matas tem alergia

E pelos céus se pode ver em fundos arcos
Das nossas matas que se desfazem em buracos
E em negro carvão de florestas pastos transformados
Enquanto os povoados espalhados passam fome
Escorrem pelos rios a morta riqueza que a nobreza consome

Índios e brancos se pintam para guerra
Pela posse e poder da exploração da Gleba
E a mão pesada da lei aplica sanção
Para aqueles que o machado tem na mão
Mas livre na limosine está o patrão

Entre tudo isso me deleito atravessando o igapó
Suor no rosto, pés encharcados e o medo ao redor
O prazer diletante do canto e revoar dos pássaros
O aroma das ervas e os ciprestes nos campos
Entre as trilhas escarpadas ando em largos paços

Alheio procuro estar a toda tormenta
Que rouba, devasta, destrói e violenta
Dos que exploram a mata poucos procuram ajudar
Aos ilhados, doentes e curumins a chorar
Gente que morre esperando socorro chegar

São aldeias que entre a mata e rio flutuam
Sonham com a vida e a tudo aturam
Índios e mestiços que aprendi a admirar
Por jamais perder a capacidade de sonhar
E muitos os criticam por árvores cortar

Mas lá de Brasília é muito fácil julgar
Desmatam, poluem, como em qualquer outro lugar
Mas cá na Amazônia... Isso nem pensar!
Pois todos são donos! Discursa o político
Mas eles têm médicos como todo rico

Não morrem no igarapé remando em canoa
Não comem palmito quando a mata escoa
Então me pergunto se aquele que aplica a punição
Que proíbe que o pobre jogue o ipê no chão
Já se colocou no lugar de quem é desta região

Que é ribeirinho, índio ou mestiço da terra
Que vivem esquecidos pros lados desta Gleba
Que não têm digna escola, estudo ou informação
Apenas vontade de vencer com a própria mão
E são condenados por nossa própria nação!

Edson Pereira
Gleba Nova Olinda-PA - 17/12/2009

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