Existe um povo que se orgulha de uma bandeira verde
Coberta de infâmia e covardia
Manchada pelo rubro sangue do seu povo...
E chamam isso de “Ordem”
E a deixa transformar nessa festa de ignorância
Entre melodias sensuais que não dizem nada
Apenas corpos dançantes exibem nádegas avantajadas sem cérebro
Para encobrir a fetidez por detrás da orgulhosa flâmula
De manto impuro que sustenta os poderosos
Fazedores de guerras e misérias...
E chamam isso de “Progresso”
“Meu Deus! meu Deus! mas que bandeira é esta”,
Que assiste homens devorando homens?
E conivente, sorri do miserável embaixo da ponte
A mirar inerte a morte do próprio filho,
Desesperado, clamando pelo seco seio da pátria mãe...
Silêncio! O luto chega... o homem chora, e chora tanto
Que acorda os hipócritas nos arranha céus.
“Calem-no! Queremos dormir o sono dos que trabalham.”
(E como trabalham)
Mas o pranto do homem ecoa inconsolável...
Tamanha voz não poderia ser calada com migalhas de ironia.
E no noticiário pela manhã:
“Mais um indigente morto com cinco tiros
Provavelmente por uma gangue de rua”.
As gargalhadas estridentes rompem os arranha céus,
Cruelantes com seus corações de pedra:
“Não mais interromperás o sono dos que trabalham”.
(E como trabalham)
Pois na constelação da nossa bandeira
As únicas estrelas que brilham
São os poderosos e suas ideologias
Enquanto no triste fundo azul marinho
O ulular fúnebre do choro dos miseráveis
É relegado ao recôndito da escuridão mais profunda
Ofuscado pelo brilho das estrelas do poder
E amordaçado pelo arco de “Ordem e Progresso”.
Mas afinal, qual é a nossa bandeira?
É o estandarte sombrio da vergonha
E do infinito pecado de ter nascido negro, pobre,
Sem cultura e sem direito de ter...
Ou a brilhante e resplandecente
Utópica esperança de transcender
A constelação de Orion e tornar-se também
Uma estrela brilhante e desmemoriada.
E volvendo as costas ao fundo azul,
Ensurdecer-se ante pegajoso e simbiótico lamento.
Qual a saída para nossa bandeira?
Retirar as estrelas?
Projetar o fundo azul, que se tornarão futuras
Estrelas da amnésia?
Desatar o arco que amordaça?
Ou esperar o juízo final,
Acreditando na longínqua Justiça Divina
“Deitado eternamente em berço esplêndido”?
Não sei!!!
Mas enquanto isso...
Ao nascer e ao pôr do sol
Ergamos a farfalhante flâmula negra... digo, verde,
E choremos... digo, cantemos o “Ouviram do Ipiranga...”
Edson Pereira
Salvador-BA – 11/11/2000
Quem sou eu
- Poemas com Asas
- Uma vez me perguntaram: “Os precipícios não o amedrontam?...” Respondi com outra pergunta: “O que sente quando vê um falcão em vôo?...” Ele respondeu: “Paz e plenitude!” Os seres alados jamais se amedrontam com as montanhas, paredões ou precipícios... tudo faz parte da sua trilha, do crepúsculo da alvorada ao poente... do dégradé do início da noite à poeira de estrelas da madrugada. Dizem que homens não podem voar... que o vôo é atributo dos pássaros. Provaremos aqui, em cada linha, que só não voa quem se elegeu eternamente ao patamar das lagartas... Este espaço, não é um convite ao vôo, mas o azimute para que encontre sua crisálida, para que vença o medo da escuridão e mergulhe nela. E no desvendar de si mesmo, possa então estilhaçar casulos e galgar os píncaros distantes da perfeição do próprio vôo. (2/04/2009)
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